Aulas começam na próxima semana. Indígenas munduruku do Pará que participarão do curso vão dialogar com "parentes" do Amazonas
Professores indígenas da etnia munduruku da aldeia Kwatá-Laranjal, na região do município de Borba (a 150 quilômetros de Manaus), querem recuperar a língua materna perdida nas últimas décadas em função do contato forçado durante a expansão da economia extrativista e a opressão de não-indígenas que os obrigaram a abandonar seu idioma nativo.
Para isso, os alunos munduruku da aldeia Kwatá-Laranjal do curso de Licenciatura Específica para Formação de Professores, que será iniciado na próxima semana, farão interlocução com colegas munduruku da região do rio Cururu, no Pará.
O curso de Licenciatura é realizado pela Faculdade de Educação (Faced), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em parceria com a Prefeitura de Borba e Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad).
A Licenciatura foi construída em articulação com a União dos Povos Indígenas Munduruku e Sateré (UPISM) e a Coordenação dos Professores Indígenas Munduruku e Sateré (CPIMS).
Construção
O presidente do Conselho de Educação Escolar Indígena do Amazonas, Amarildo Munduruku, foi um dos interlocutores da construção do programa do curso de licenciatura específica para os professores.
Segundo ele, junto com a formação em diferentes áreas do conhecimento, os professores munduruku sentiram necessidade de revitalizar a língua.
Amarildo, que nasceu na aldeia Kwatá-Laranjal e hoje estuda Biologia na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), conta que nas comunidades localizadas na região de Borba apenas "os mais antigos falam munduruku".
"Os mais velhos sabem falar, mas são palavras soltas. Outro problema é que eles não sabem escrever. A tradição é oral", conta Amarildo. Na aldeia, segundo Amarildo, vivem aproximadamente 3.500 indígenas da etnia.
De acordo com o conselheiro, a perda da língua materna se deu, sobretudo, pela pressão externa e pela proibição vinda de "seringueiros e patrões" que invadiam as terras dos indígenas.
"Eles não deixavam que ninguém falassem munduruku. Temiam que a comunicação na nossa língua fosse uma forma de se revoltar contra eles", explica.
De acordo com Amarildo, a reinserção da língua no cotidiano dos professores e, por conseguinte, entre alunos destes demais moradores, vai recuperar também a memória histórica e étnica dos mundurukus de Kwatá-Laranjal.
"A proposta é elaborar um material didático para ser aplicado junto aos alunos", afirmou.
Fundamental
O curso será realizado em duas etapas intensivas e presenciais. Uma etapa de um mês e outra de dois meses. A primeira acontece em março e a outra em agosto e setembro, totalizando cinco anos.
A grade curricular oferecerá formações gerais com disciplinas pedagógicas e formação específica das áreas de Ciências Humanas e Sociais, Ciências Exatas e Biológicas. Uma terceira etapa de integração das áreas, com duração de um ano, será incorporada ao curso.
Durante o curso, uma luta política também deverá fazer parte da mobilização dos professores: a articulação para que mais escolas de ensino médio sejam construídas na aldeia.
"A maioria dos nossos professores é amparada pelo Parecer 14 do Ministério da Educação dar aula para o ensino fundamental. Esta Licenciatura Intercultural vem para dar formação aos professores, mas é preciso aumentar o número de escolar de ensino médio nas aldeias", disse Amarildo Munduruku.
Segundo Amarildo, somente em aldeia munduruku, há aproximadamente 35 escolas, a maioria com formação até o ensino fundamental.
Cursos
A Ufam já oferece, desde 2008, um curso de Licenciatura Para Professores Indígenas da etnia mura, no municípios em Autazes. A turma mura está no quarto ano.
Ainda em 2011, também será aberta uma nova turma de licenciatura, desta vez para os sateré-mawé, a partir de maio.
Os cursos recebem financiamento do Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Indígenas (Prolind), da SEC/MEC
http://acritica.uol.com.br/amazonia/Amazonia-Amazonas-Manaus_0_433156801.html
PIB:Tapajós/Madeira
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- TI Coatá-Laranjal
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