O mundo indígena no extremo sul de S. Paulo

OESP, Metrópole, p. C5 - 11/11/2010
O mundo indígena no extremo sul de S. Paulo

Nathália Butti

A aldeia indígena Tenondé Porã, no extremo sul da cidade de São Paulo, abriga mais de 1.500 índios que vivem em mata virgem, falam guarani, praticam arco e flecha e rezam para Tupã. Há dois anos era difícil saber que eles existiam. Mas o projeto Juruá Jaru Nhanderekoa Re (Turismo e o Universo Guarani) abriu as portas das ocas de tijolos pintados para quem quer entender como os índios se inserem no contexto da cidade grande.
A aldeia, de 26 hectares, fica em uma Área de Proteção Ambiental Municipal (APA) já tombada pela Unesco como reserva da biosfera. Mas os índios vinham enfrentando problemas estruturais. A especialista em turismo Ana Paula Barros, responsável pelo projeto desenvolvido em parceria com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, explica que o território de proteção foi demarcado, mas a população indígena continuou crescendo e teve sua rotina alterada: ''Não há espaço suficiente para plantar ou caçar, o que dificulta preservar a cultura; então criamos o projeto para valorizar o povo guarani, difundir o cuidado que eles têm com o meio ambiente e gerar renda para a comunidade, garantindo a sobrevivência da aldeia''.
Para viabilizar as mudanças, a equipe do projeto providenciou sinalização turística em guarani e em português nos principais pontos de visitação, instalou lixeiras em locais estratégicos e ofereceu um curso de capacitação aos índios por quatro meses. Eles tiveram aulas de Economia Sustentável com ênfase em Turismo, aprenderam a planejar roteiros de visitação e receberam noções de administração e atendimento ao visitante. As famílias indígenas participaram de oficinas de artesanato, culinária e costura; os organizadores de visitas aprenderam a lidar com burocracias e os índios-monitores fizeram cursos para aprimorar o português e aprender mais sobre cultura dos povos e meio ambiente.
A professora Giselda Jerá, que dá aulas para crianças em uma das escolas da aldeia, acredita que o projeto resgatou antigos hábitos culturais: ''As crianças ajudaram na confecção de roupas típicas que já não eram tão usadas, o que abriu o diálogo com os mais velhos sobre as antigas tradições, e também voltamos a fazer cestos em taquara, uma técnica que estava quase perdida - até na alimentação fizemos esse resgate; muita gente participa do preparo dos pratos típicos que são vendidos aos turistas'', relata.
Antes de um plano bem estruturado de turismo sustentável, cerca cinco grupos visitavam a aldeia por mês. Hoje, o número triplicou, informa o cacique Ataíde Vilharve, de 24 anos. Ele reconhece os desafios e a necessidade de implantação do projeto: ''Ainda há resistência dos mais velhos à visitação, mas a aldeia precisa preservar sua cultura e se capacitar para sobreviver no mundo juruá (não-indígena) de maneira independente. E isso tem sido conseguido''.
Na aldeia, ninguém lucra individualmente, o dinheiro arrecadado com as visitas é usado para melhorias do espaço coletivo. Desde que o projeto começou, o cacique diz que os lucros aumentaram em 45%.

Nathália Prósperi Butti é aluna da Faculdade Cásper Líbero.

OESP, 11/11/2010, Metrópole, p. C5

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101111/not_imp638241,0.php
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