PF prende 60 de quadrilha acusada de faturar R$ 1 bilhão com madeira ilegal

OESP, Vida, p. A25 - 22/05/2010
PF prende 60 de quadrilha acusada de faturar R$ 1 bilhão com madeira ilegal
Ambiente. Grupo envolvia o ex-secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso, chefe de gabinete do governador, engenheiros florestais e cúmplices em cinco Estados; investigação de dois anos apontou falsificação de licenças ambientais para áreas desmatadas

Lígia Formenti

Uma quadrilha acusada de fraudes que deixaram prejuízo de R$ 1 bilhão com o "esquentamento" de madeira ilegalmente extraída de Mato Grosso foi desbaratada ontem, durante operação da Polícia Federal. A ação, após dois anos de investigação, resultou em 91 mandados de prisão preventiva e 91 de busca e apreensão em MT, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Distrito Federal. Até a noite, 60 pessoas haviam sido presas.
O grupo era formado por proprietários de terra de Mato Grosso, engenheiros florestais e servidores públicos do Estado. Entre os presos estão o chefe de gabinete do governo, Sílvio Cezar Correia, o ex-secretário de Meio Ambiente Luis Henrique Daldegan, o secretário adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Afrânio Migliari, a mulher e o genro do presidente da Assembleia Legislativa de MT, Janete Riva e Carlos Antonio Azoya.
Para conseguir "legalizar" madeira retirada ilegalmente, integrantes falsificavam licenciamentos e planos de manejo florestal para áreas devastadas. Usavam para isso imagens de satélite de outras propriedades ou fotos antigas, simulando a existência de floresta em pé. Com base nas informações falsas, o grupo conseguia créditos ambientais - o passe livre para legalizar madeira retirada irregularmente de cerca de 100 áreas indígenas e 20 unidades de conservação ambiental.
Entre as áreas afetadas pela extração ilegal estão o Parque Indígena do Xingu, o Complexo dos Cintas Largas e a área Indígena Caiabi. Segundo a Polícia Federal, não há indícios de envolvimento de índios na quadrilha.
Investigações demonstram que o grupo atuava há pelo menos dois anos. Nesse período, o grupo extraiu R$ 900 milhões de madeira ilegal - o equivalente a 1,7 milhão de metros cúbicos de madeira.
Engenheiros florestais estariam encarregados de fazer os laudos falsos. Servidores presos são acusados de fazer "vista grossa" aos documentos falsificados e liberar os créditos numa velocidade impressionante. Geralmente, o processo de concessão demora cerca de um ano. Nos casos analisados, era preciso esperar entre 30 e 60 dias para obtenção da licença.
Enriquecimento. Sigilo telefônico e fiscal de vários dos envolvidos foi quebrado. As investigações mostram que muitos dos servidores apresentam patrimônio incompatível com seus vencimentos. Em alguns casos, o patrimônio do funcionário é 300 vezes maior que a receita. Durante investigações, também foi identificada propina. Um dos servidores envolvidos nas denúncias chegou a receber de um proprietário um carro avaliado em R$ 200 mil.
De acordo com a polícia, parentes do presidente da Assembleia Legislativa, José Riva (PP), são donos de terras para as quais teria sido concedida licença de manejo de forma irregular.
Fontes. Os trabalhos começaram a partir de informações obtidas em outras duas operações da Polícia Federal envolvendo extração ilegal de madeira: Caiabi (ocorrida em 2006) e Mapinguari (de 2007). Desde então, 65 áreas desmatadas foram periciadas para comprovar as disparidades entre o que constava nos laudos e a realidade.
Para integrantes da Polícia Federal, a investigação feita demonstra a existência de uma série de falhas na segurança nos processos de liberação de emissão de guias florestais. Um documento com principais problemas deverá ser feito e encaminhado para o governo.
Até o fim da tarde de ontem, a Polícia Federal ainda não havia contabilizado o número total de prisões efetuadas nos Estados envolvidos.
Participaram da operação, batizada de Jurupari, 390 policiais. Os acusados de participar do grupo responderão pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, grilagem, falsidade ideológica, inserção de dados falsos em sistema de informática e crimes previstos na Lei de Crimes Ambientais.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100522/not_imp554998,0.php


Para investigados, ação da polícia tem viés político

Fátima Lessa / Cuiabá

Mulher do presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Janete Riva negou qualquer envolvimento com as irregularidades apontadas pela Polícia Federal em sua propriedade rural, localizada no município de Juara. Segundo investigações, sua propriedade aparece como de manejo ilegal.
Ela negou qualquer prática irregular e alegou que não administra diretamente sua propriedade rural, tendo funcionário direcionado para isso. O presidente da Assembleia, José Geraldo Riva (PP-MT), afirmou que a prisão de sua mulher é uma maneira de atingi-lo. Segundo ele, a operação da polícia teria viés político.
A prisão de Janete aconteceu pela manhã. Depois de prestar depoimento, ela foi encaminhada para a Polinter. Segundo informações do deputado Riva, em sua casa foi realizada busca e apreensão de pertences. Além de R$ 25,6 mil que pertenceriam ao genro do casal, Carlos Antonio (o dinheiro seria referente a um empréstimo contraído no Bradesco), os agentes também apreenderam dois contratos realizados pelo parlamentar para a colonização de uma área em Santa Cruz do Xingu. "Se o procurador Mário Lúcio Avelar e o juiz Sebastião Julier encontrarem algum crime ambiental, eu dou a fazenda para eles", disse.
O governador Silval Barbosa afirmou que afastou provisoriamente os servidores envolvidos nas investigações. A Secretaria de Comunicação confirmou que todos os servidores serão mantidos afastados até o fim do processo. Segundo Barbosa, após ter em mãos as informações da investigação sobre os empreendimentos suspeitos, haverá novas vistorias e alguns podem até perder o plano de manejo.
Os advogados dos outros presos não foram localizados pela reportagem.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100522/not_imp555006,0.php


Meio ambiente é questão moral, disse ex-secretário

Ex-secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso Luiz Henrique Daldegan, um dos detidos ontem na operação da PF, passou boa parte de sua gestão contestando os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que colocavam o Estado na liderança do desmatamento. Um dos argumentos de Daldegan, em 2007, era de que áreas desmatadas em anos anteriores e já computadas pelo Estado eram apresentadas como desmatamento atual. Depois, Daldegan chegou a reconhecer a metodologia do Inpe e afirmou que acompanharia os desmatamentos em campo. Após pacto entre o governo de Mato Grosso e ONGs, o Estado deixou de fazer parte da lista dos maiores desmatadores.
Daldegan também se vangloriava de ter desmantelado, em 2005, uma rede de corrupção que favorecia a retirada ilegal de madeira. "Eu vejo a questão ambiental não como uma política, mas como uma questão moral de toda a sociedade", disse na época.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100522/not_imp555005,0.php

Para lembrar
MT foi líder de desmate

No segundo semestre de 2007, Mato Grosso foi apontado como o Estado que mais desmatou a Amazônia, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (1Inpe).. N a época, o Estado respondeu pelo desmate de 1.786 quilômetros quadrados de floresta. Os dados do Inpe foram contestados pelo governo de Mato Grosso, que tinha Luiz Henrique Daldegan à frente da Secretaria de Meio Ambiente.

OESP, 22/05/2010, Vida, p. A25
Amazônia:Madeira-Exploração

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