Líder indígena propõe acordo para acabar conflitos na região

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR - 20/01/2003
Alfredo Silva: "Com essa medida, nós daríamos uma verdadeira lição de civilidade"


Os conflitos entre índios e não índios existentes na região de São Marcos ocorridos nas últimas semanas devido à falta de um limite legal para o perímetro urbano do município de Pacaraima, motivou o líder indígena da etnia wapixana, Alfredo Silva, a resgatar uma proposta apresentada por ele há cerca de três anos, quando era presidente da TWM (Sociedade para o Desenvolvimento Comunitário e Qualidade Ambiental), com o objetivo de por fim aos desentendimentos e promover a convivência pacífica dos povos daquela região.
Alfredo Silva, que hoje é diretor do Pronesp [Programa de Desenvolvimento Sustentado da Comunidade Nova Esperança] e líder da comunidade Nova Esperança, sugere a concessão de uma área de cinco mil hectares da terra indígena São Marcos para que o município possa se expandir e os seus moradores trabalharem de forma a garantir o desenvolvimento sustentável do núcleo urbano.
Em contra partida o governo brasileiro compensaria a cessão das terras com programas que permitissem aos índios viverem de forma digna, com tecnologia para a produção de alimentos, criação de gado e infra-estrutura que garanta uma vida digna a eles.
Como se trata de uma medida que depende do Governo Federal para ser executada, Alfredo Silva, diz que se faz necessário que a bancada federal de Roraima demonstre interesse em abraçar a idéia, que considera ser uma forma de por fim às tensões que tomam conta daquela região nos últimos 20 anos.
Ele afirmou que está tentando conseguir o apoio do Governo do Estado e da Advocacia Geral da União (AGU) para a causa. "Com essa medida, nós daríamos uma verdadeira lição de civilidade. Não temos interesse político, queremos apenas contribuir para eliminar as tensões naquela área", diz, salientando que está na hora de por fim aos conflitos na terra indígena de São Marcos, "pois não podemos passar mais tempo nessa situação estressante causada pelos constantes desentendimentos entre índios e não índios", prega.
De acordo com Alfredo Silva é importante que a situação no município de Pacaraima seja resolvida porque, no contexto atual, há a necessidade urgente de retomar a economia das comunidades indígenas que vivem naquela região, que ficou comprometida ao longo dos últimos 20 anos.
Ele afirma que atualmente a realidade nas comunidades é difícil devido ao aparecimento de doenças como tuberculose e alcoolismo que afetam os índios, além de problemas sociais como a falta de perspectiva dos jovens indígenas, o que leva alguns a cometerem suicídio e ingressarem na prostituição.
CONTRA - A proposta do líder wapixana não encontra apoio na Pastoral Indígena. Em conversa por telefone com a reportagem da Folha, a Irmã Edna, membro da pastoral, disse que a cessão de terras indígenas para outros fins trata-se de uma medida inconstitucional e somente a União pode tratar do assunto.
Ela é da opinião que se os índios aceitarem a redução da terra indígena de São Marcos, estarão abrindo mão dos direitos conquistados. "E direitos conquistados não podem ser negociados. No entanto não somos nós [da Pastoral] que vamos decidir", salientou, afirmando que a entidade apóia as medidas que beneficiem a maioria dos índios.
De forma taxativa demonstrou a sua contrariedade à proposta apresentada pelo líder da comunidade Nova Esperança. "Nós não apoiamos as idéias de Alfredo [Silva]", finalizou.
A Folha também manteve contato com a Assessoria de Comunicação do CIR [Conselho Indígena de Roraima] para saber a opinião dos dirigentes do órgão sobre o assunto, mas não obteve resposta.
PIB:Roraima/Lavrado

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