Pacaraima corre risco de ficar sem água

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR - 20/02/2003
Em Pacaraima, o abastecimento de água está racionado devido à estiagem


Os índios e membros da organização não-governamental Programa de Proteção à Terra Indígena São Marcos proibiram que a Companhia de Água e Esgotos de Roraima (Caer) utilizasse o igarapé Samã, que fica na reserva indígena, para abastecer a população de Pacaraima com água.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) já solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) providências para impedir a Caer de fazer a captação e transporte de água do igarapé.

A Caer informou por meio de nota à imprensa que o município está correndo sérios riscos de ficar sem o fornecimento de água. A medida de captar água no Samã é uma alternativa encontrada todos os anos para evitar racionamento durante o período de estiagem.

Esta semana, quando os funcionários da Caer tentaram retirar água do local foram ameaçados por membros do Programa São Marcos. Sem citar nomes, a informação é que funcionários da Ong disseram que iriam apreender o carro-pipa da empresa se não deixassem o lugar.

Depois desse episódio, a estatal de abastecimento de água encaminhou ofício para a Funai solicitando liberação de acesso ao local, mas o pedido foi negado. A alternativa da Caer e da prefeitura de Pacaraima para evitar o desabastecimento foi buscar água em Santa Elena, na Venezuela. Mas lá também não houve permissão.

O prefeito de Pacaraima, Hipérion Oliveira (PDT), informou que pretende conseguir na Justiça autorização para continuar retirando água do igarapé Samã, pois nem mesmo os poços artesianos perfurados em Pacaraima foram suficientes para atender os cerca de 5.500 moradores.

Na manhã de ontem, se reuniram na sede Caer o prefeito de Pacaraima e o presidente da companhia, Edmir Cordeiro, na tentativa de encontrar uma solução para o problema, pois a barragem para captação não consegue atender a demanda obrigando a Caer a racionar o fornecimento em determinada hora do dia.
Hipérion assegurou que a captação da água no Samã não causa qualquer tipo de dano ao meio ambiente, como desmoronamento de barreira ou poluição porque a retirada é feita de cima de uma ponte.

"Na verdade, não foram os índios que impediram foi a Ong [Programa de Proteção a São Marcos], mas de uma forma ou de outra tem vínculo com os índios da região", afirmou o prefeito.

"Encaminhamos um expediente para o administrador regional da Funai, pedindo que intercedesse junto aos índios para que permitissem em regime de urgência, mas a Funai disse que simplesmente não podia interceder porque era uma decisão dos tuxauas", disse Edmir Cordeiro.

Na reunião ficou acertado que a CAER e Prefeitura de Pacaraima, vão entrar com uma medida cautelar, para conseguir retirar água do igarapé. "Então nós estamos entrando na Justiça para garantir o abastecimento de água no nosso município", frisou Hipérion.

APIRR - O presidente da Associação dos Povos Indígenas de Roraima (Apirr), Telmar Mota, disse que desconhece o assunto. Ele acredita que a proibição pode não passar de uma invenção para prejudicar a negociação sobre a reserva de São Marcos.

"Qualquer assunto deste tipo a Apirr fica sabendo com antecedência. Mas se realmente for verdade somos totalmente contra a proibição. Afinal de contas, na sede de Pacaraima existem muitos indígenas e a questão da água é um caso sério. Somos contra a proibição por uma questão humanitária. Se isto estiver acontecendo daremos apoio para solucionar o problema", disse o líder indígena.
PIB:Roraima/Lavrado

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