Diretor da Apirr aponta sindicalista como responsável por venda de lotes

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR - 28/01/2003
O vice-presidente da Associação dos Povos Indígenas de Roraima (Apirr), Firmino Alfredo da Silva, apontou o presidente da Aliança de Integração e Desenvolvimento das Comunidades Indígenas de Roraima (Alidicir), Anísio Pedrosa, como um dos responsáveis pelo loteamento e venda de terrenos na Terra Indígena São Marcos, em Pacaraima.

"Muita gente lá em Pacaraima cita o Anísio como um dos que vendem lotes, mas ele sempre nega", disse o líder indígena. A Alidicir é a entidade indígena que faz oposição a Apirr na questão indígena.

Firmino da Silva também afirmou que "índios sem consciência" também agem da mesma forma. Segundo ele, na maioria das vezes os indígenas que incorrem em tal prática vendem os terrenos por preço insignificante, como meio de sobrevivência.

O líder indígena disse ainda que o prefeito de Pacaraima, Hipérion Oliveira (PDT), tem conhecimento de que moradores do município estão vendendo lotes da terra destinada aos índios e não toma nenhuma providência. "Como prefeito da cidade ele não pode alegar que não tem conhecimento. Agora, quando nós o procuramos, ele diz que não sabe de nada", contou.

Disse que já procurou o presidente da Alidicir para questionar sobre a venda ilegal de lotes, mas Anísio Pedrosa tem negado sua participação no loteamento de terrenos naquela área. Segundo Firmino da Silva, o fato já foi denunciado várias vezes aos órgãos competentes, mas nenhuma providência foi tomada. "Já levamos a denúncia até mesmo a Brasília", salientou.

O vice-presidente a Apirr alega não encontrar apoio nas autoridades do Estado para coibir a ação dos exploradores. "Quando agente quer trabalhar [denunciar] todas as autoridades do Estado são contra. Então fica difícil para nós defendermos nossa própria área. Mas vamos continuar lutando", disse.

Diante das denúncias feitas contra os supostos exploradores, Firmino afirmou já ter recebido várias ameaças, mas disse que não se intimida, pois a defesa da Terra Indígena São Marcos é uma causa na qual acredita e pela qual foi continuar lutando. "Os direitos dos índios devem ser respeitados. As leis que concedem aos indígenas o direito à terra foram feitas pelos não-índios e estes têm que respeitá-las", frisou.
SEM CONFIRMAÇÃO - A Folha ouviu moradores de Pacaraima, que preferiram ficar no anonimato. Eles afirmaram desconhecer a venda ilegal de lotes em São Marcos. "Não podemos confirmar essa informação, pois não temos conhecimento de nada a esse respeito", afirmaram os entrevistados.

O presidente da Associação de Micro e Pequenos Empresários de Pacaraima, Severo Mecias Basset, também disse que desconhece que esteja ocorrendo o loteamento de terrenos para venda na área destinada aos silvícolas.

"Existe uma penetração na área indígena devido à escassez de terras no Município de Pacaraima. Agora, o que sabemos é que quem está invadindo são aquelas pessoas que não têm onde morar e estão fazendo casas para viver", comentou.
Severo Mecias disse que os constantes conflitos ocorridos naquela região se devem a falta de interesse das autoridades em resolver as questões indígena e fundiária do Estado.

"Pacaraima é uma cidade que contribui com o Estado com os impostos que arrecada. Queremos resolver esse problema", disse. Ele acusa as entidades e Ongs (Organizações Não-Governamentais) que trabalham com a causa indígena de jogarem índios contra não-índios, defendendo apenas seus próprios interesses.

ALIDICIR - A Folha tentou localizar, por telefone, o presidente da Alidicir, Anísio Pedrosa, para ouvi-lo sobre a acusação de que ele é o responsável pela venda ilegal de lotes em São Marcos, mas não conseguiu localizá-lo. O prefeito de Pacaraima, Hipérion Oliveira, também foi procurado, mas estava com o seu celular desligado.
ATIVIDADES - A Associação dos Povos Indígenas de Roraima está em atividade há 16 anos. Foi fundada em 1987 e desde então tem lutado na defesa dos direitos dos índios no Estado.

Atualmente a entidade desenvolve o Projeto São Marcos, que consiste na realização de oficinas na área de educação ambiental junto aos índios. Os participantes dessas oficinas são treinados para respeitar o meio ambiente e a fiscalizar para impedir que crimes ambientais sejam cometidos na região de São Marcos.

Um outro projeto desenvolvido pela entidade diz respeito à plantação de mudas, que posteriormente são distribuídas entre as comunidades. Os participantes desse projeto aprendem como tratar adequadamente as plantas cultivadas.

Firmino disse que a Apirr está mantendo contato com professores para ensinar aos índios como elaborarem projetos que tragam benefícios às comunidades. Afirmou que se trata apenas de uma idéia embrionária, mas que espera que renda bons frutos para os povos daquela região.
PIB:Roraima/Lavrado

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