Decisão da Funai gera aumento de natalidade

Correio do Estado-Campo Grande-MS - 13/05/2002
Com medida proibindo indíos de utilizar métodos contraceptivos, nas aldeias de Dourados vem crescendo o número de nascimentos por ano. Hoje, de 8,5 mil, 1.750 são crianças


O impedimento de haver um controle rigoroso de natalidade entre os índios por determinação da Funai, tem provocado um elevado índice de nascimentos nas aldeias de Dourados, incluindo Jaguapiru, Bororo, Panambi e Panambizinho. No ano passado, nasceram 416 crianças e neste ano já são 141 nascimentos registrados, conforme dados do Pólo Indígena da Fundação Nacional de Saúde-Funasa.

A miséria também pode ser outra explicação para o aumento de natalidade. A índia recebe o auxílio-natalidade que varia de R$ 500,00 a R$ 800,00. O chefe do Posto Indígena, Argemiro Alves, comentou que todas as mães assim que ganham um bebê já procuram encaminhar o pedido do auxílio natalidade. Os valores do benefício chegam segundo ele, a R$ 800,00, que muitas vezes são pagos em quatro parcelas ou até mesmo à vista. As únicas mães que não são incluídas no programa são as menores de 16 anos. O chefe do posto chegou a sugerir que muitas mães estariam tendo filhos apenas para receberem o auxílio.

Mas, a proibição do controle de natalidade que é evidente na reserva indígena, deve ser a principal causa do aumento de natalidade. Alguns métodos contraceptivos são adotados até de forma velada - os preservativos - que além de prevenir doenças, evitam a gravidez.

A laqueadura que seria o sistema definitivo não é utilizado pelos médicos mesmo em mães com dez filhos ou mais. Esses profissionais temem serem punidos, já que a orientação de antropólogos à Funai é de que um controle de natalidade poderia provocar a extinção da raça. O assunto é questionável principalmente quando se observa a questão social. Essa cirurgia só é permitida em caso de risco.

O chefe do Pólo Indígena da Funasa em Dourados, Nelson Carmelo Olazar, informou que desde meados de 2000, quando a Funasa passou a atuar diretamente com os índios, começou a levar as "camisinhas" para a aldeia. De início houve muita resistência, mas hoje já existe uma grande procura. Até mesmo nos postos de saúde, casais de indígenas buscam os preservativos e a maioria para evitar filhos.

O diretor clínico do Hospital da Missão Evangélica Caiuá, Franklin Sayão, que presta atendimento à comunidade indígena, disse ontem ao Correio do Estado que é uma situação difícil para o médico. Ele entende que pelo fato de o índio douradense estar muito próximo da cidade, as informações são maiores e eles acabam se conscientizando da necessidade de um número reduzido de filhos. Franklin explicou que quem procura esse tipo de cirurgia são aquelas índias mais esclarecidas e o médico não tem como atendê-las.

Para Franklin Sayão diante da atual situação indígena, seria necessário um controle de natalidade. Antes disso, para ele, deveria ser feito um trabalho mais intenso para reduzir o índice de mortalidade. Aliando as duas coisas, dificilmente haveria a extinção da raça como colocam os antropólogos ou seja, nasceriam menos crianças mas também reduziria o número de mortes. No ano passado houve registro de 14 crianças que nasceram mortas. Esse ano são dois casos.

O médico esclareceu também que o índice de mães adolescentes é grande, porque o índio entende que a menina a partir do momento em que menstrua já está em condições de procriar. Para Sayão é uma questão complicada já que uma garota de 12 anos, conforme foi mostrado essa semana pelo Correio do Estado, ainda está com seu corpo em formação. No caso dos índios, o organismo ainda pode ser mais debilitado nessa idade por não ter tido uma alimentação adequada durante a infância.

Números da Funasa, que não foram totalmente concluídos, revelam ainda que a população nas quatro aldeias é de 8.500 índios, sendo 1.750 só de crianças de zero a cinco anos. No ano passado, a própria fundação revelava que somente nas aldeias Jaguapiru e Bororo as crianças de zero a 10 representavam mais de 30% da população. Um detalhe interessante é que em 2001 nas quatro aldeias o número de nascidos vivos foi exatamente igual: 208 meninas e 208 meninos. Esse ano já foram 69 meninos e 72 meninas. De acordo com o IBGE, a população indígena de Mato Grosso do Sul cresceu em 84,8% nos últimos dez anos. O Censo 2000 revela que o Estado ocupa o segundo lugar no ranking nacional em número de população indígena, com 60.533 habitantes. Em 1991, os moradores índios somaram 32.759 pessoas, ou 1,84% da população total. Conforme o levantamento, dos 2.078.001 habitantes do Estado, atualmente, 2,9% são índios.
PIB:Mato Grosso do Sul

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