Os índios guaranis do Paraná querem virar empresários. Pediram ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) licença para explorar e engarrafar água mineral. O projeto, que inclui no futuro uma pequena fábrica de guaraná, conta com o apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai), mas pode esbarrar em restrições - especialmente o Estatuto do Índio, que será votado no Congresso.
Os índios são da reserva Laranjinha, a 120 quilômetros de Londrina, uma área que engloba partes dos municípios de Santa Amélia e Abatiá. Há oito anos, os índios perfuraram um poço na aldeia, porque o riacho estava com a água contaminada e as crianças morriam com viroses. A água do poço, a cerca de 40 metros de profundidade, pulou dois metros acima do nível do solo e surpreendeu vários geólogos, por sua pureza e pela composição dos nutrientes. O poço tem uma vazão de 150 metros cúbicos por hora e hoje a maior parte da água mineral é desperdiçada.
Com o objetivo de engarrafar a água, os índios criaram a Cooperativa de Mineração Porã da Comunidade Guarani da Terra Indígena Laranjinha-PR (Coomporã). Segundo o presidente da organização, Dênis Uikã, a aldeia - que tem mais de 50 famílias, com cerca de 250 pessoas -, está procurando um sistema que possa engarrafar ao mesmo tempo água mineral e guaraná. Aculturados, os guaranis já mantiveram contatos com alguns parlamentares para incluir no orçamento da União uma emenda com recursos para o projeto.
Caso não consigam dinheiro público, vão procurar ajuda na iniciativa privada. Eles já foram assediados por representantes de uma cervejaria brasileira e de uma multinacional sueca de leite, interessadas em explorar a água mineral. ''Já conseguimos R$ 150 mil para o projeto'', disse Uikã, sem dar os detalhes.
Por enquanto, os índios estão recebendo orientação somente da Funai. Um dos técnicos que acompanham o projeto é o geólogo Múcio Nobre, do Departamento do Patrimônio Indígena e Meio Ambiente da Funai. ''Os índios querem aproveitar a água e fugir do paternalismo'', diz Nobre. ''Este é um verdadeiro projeto de auto-sustentabilidade em um aldeia indígena.''
Técnicos da Funai afirmam que a água conteria substâncias ''medicamentosas''. Nobre confirma que a água é especial, mas não revela os conteúdos das análises. Segundo os técnicos da Funai, a água encontrada pelos índios ficaria num dos pontos mais superficiais do chamado Aqüífero Guarani, um gigantesco reservatório de águas potáveis subterrâneas, numa área que compreende quatro países: Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai. Em alguns locais, essas águas só são atingidas com poços de dois mil metros de profundidade. Múcio Nobre disse que a origem exata das águas depende de análises, que serão feitas brevemente.
Dênis Uikã afirmou que o requerimento de pesquisa junto ao DNPM serve ao mesmo tempo como início concreto do projeto de engarrafamento de água mineral e para evitar invasões de seu território por empresas privadas. Os índios estão preocupados com a votação do Estatuto do Índio,que tramita na Câmara.
O Estatuto não garante em nenhum de seus artigos prioridade aos índios na utilização de seus territórios. No texto que está sendo analisado pelo Congresso, um artigo define em 2% o percentual de participação dos índios nas empresas que irão explorar concessões de lavras.
Os guaranis vão fazer projetos de capacitação e gerenciamento de recursos hídricos como forma de administrar os negócios. O engarrafamento da água, segundo eles, é um meio de dar sustentabilidade a uma tribo que já não tem muito espaço para plantio. Apesar de englobar áreas de dois municípios paranaenses, nem todas as terras da aldeia são agricultáveis
PIB:Sul
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- TI Yvyporã Laranjinha
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