PASSADO COLONIAL TRAUMÁTICO: A TRISTE SAGA DO ÍNDIO ISOLADO DA TI TANARU

Aventuras na História - aventurasnahistoria.uol.com.br - 08/08/2020
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/passado-colonial-traumatico-a-triste-saga-do-indio-isolado-da-ti-tanaru.phtml

Monitorado pela Funai na Terra Indígena (TI) Tanaru, o homem solitário é símbolo da violência que ocorreu no Brasil Colônia

Em Rondônia, na Terra Indígena (TI) Tanaru, vigiada pela Fundação Nacional do Índio (Funai), um homem vive totalmente isolado. Não conversa com ninguém. Ganhou assim o nome popular de "índio do buraco", por deixar valas, provavelmente armadilhas de caça, ou locais de esconderijo. No mais, deixou claro que não quer ser perturbado.

O remanescente passou por uma grande tragédia. É o que indica a Funai, que diz que ele pode ser o único sobrevivente da destruição que assolou a sua etnia. A fundação evita contato com grupos isolados, que estão nos seus respectivos direitos de residentes da floresta.

Em um comunicado oficial de 2018, disse ainda que "compete à Funai, por meio das CGIIRC e das CFPEs, garantir aos povos isolados o pleno exercício de sua liberdade e das suas atividades tradicionais". O que é feito, então, nesse sentido, são monitoramentos do morador da mata, que começaram há cerca de 24 anos.

A história do índio

Fiona Watson, a diretora da Survival International, organização não lucrativa que cuida dos direitos de povos nativos, já visitou a área onde vive o índio isolado. "Ele passou por uma experiência muito violenta e vê o mundo como um local muito perigoso", contou a especialista, em entrevista à BBC.

A Funai acredita que o indivíduo pertence a um grupo que foi exterminado, depois que um ataque matou seis membros em 1995. Ninguém foi punido pelo crime, mas os culpados seriam fazendeiros locais. O ataque acabou apagando a história da tripo do remanescente, que nunca recebeu um nome, e não se sabe qual é a sua língua.

As ameaças diante às comunidades indígenas, tais como as do "índio do buraco" são resultado de um passado colonial desordenado, no qual houve a instalação de fazendas e a exploração ilegal de madeira em Rondônia. A atividade madeireira resultou em ataques frequentes e genocídios contra os povos indígenas isolados.

Em junho de 1996, a Funai identificou a história traumática do povo, a partir da localização do acampamento dele e outros vestígios. Foram encontrados, por exemplo, cabanas de palha e instrumentos de uso manual, como tochas de resina e flechas.

"Quando a Funai finalmente confirmou sua presença, já havia apenas uma pessoa. No entanto, outros indícios anteriores levaram os servidores a crer que ali residia [no passado] um grupo maior", afirmou a fundação, em comunicado.

Monitoramento

Em um período de dez anos, de 2008 a 2018, a Funai fez, segundo divulgado, "57 incursões de monitoramento do indígena e cerca de 40 viagens para ações de vigilância e proteção da TI Tanaru". Nesse espaço de tempo, foram localizadas 48 moradias e o indivíduo foi filmado.

A região onde ele se encontra fica em uma área de cerca de 8 mil hectares, circundada por fazendas e zonas desmatadas."A gente sempre sabe mais ou menos em qual igarapé e em qual parte da terra indígena ele se encontra. Monitoramos ele de longe", afirmou à BBC, Altair Algayer, Coordenador da FPE Guaporé.

A região amazônica hoje possui a maior parte das tribos indígenas não contatadas do mundo, de acordo com a Survival International. Contatar-se de modo direto com os povos indígenas pode ameaçá-los, ao trazer para as comunidades isoladas riscos de morte por doenças só medicáveis para a população externa, como a gripe e o sarampo.

Por isso, é necessária uma abordagem profissional e cuidadosa. A Funai tentou se comunicar de longe com o indígena, entretanto, ele sempre recuou. Com o passar do tempo, os funcionários resolveram apenas deixar algumas ferramentas e sementes para plantio em áreas em que o indivíduo visitava.

Foram encontradas alguns anos depois plantações de ilho, batata, cará, banana e mamão. Era uma grande horta feita pelo indígena. Ele sobrevive sozinho com esses alimentos e a caça.

Em comunicado, Altair Algayer, que trabalha na área, demonstrou sua admiração pelo sobrevivente. "Esse homem, que a gente desconhece, mesmo perdendo tudo, como o seu povo e uma série de práticas culturais, provou que, mesmo assim, sozinho no meio do mato, é possível sobreviver e resistir a se aliar com a sociedade majoritária. Eu acredito que ele esteja muito melhor do que se, lá atrás, tivesse feito contato", disse.

PIB:Rondônia

Áreas Protegidas Relacionadas

  • TI Tanaru
  •  

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.