Roraima tem 14 povos indígenas ameaçados por fuga de garimpeiros da Terra Yanomami

G1 - https://g1.globo.com/ - 15/02/2023
Roraima tem 14 povos indígenas ameaçados por fuga de garimpeiros da Terra Yanomami
Lideranças indígenas temem que os garimpeiros ilegais migrem para as Terras Indígenas Boqueirão, Mangueira, Pium, Wai Wai, Jacamim, Araçá e Raposa Serra do Sol.

15/02/2023

Com a fuga em massa de garimpeiros ilegais na Terra Indígena Yanomami, ao menos 14 povos indígenas estão ameaçados por uma possível migração dos invasores para outros sete territórios no estado. O levantamento é do Conselho Indígena de Roraima (CIR), que acompanha o processo de retirada dos causadores da crise humanitária sem precedentes na maior reserva do país.

A preocupação do CIR é que a expulsão dos garimpeiros cause uma pressão do garimpo sobre as Terras Indígenas Boqueirão, Mangueira, Pium, Wai Wai, Jacamim, Araçá e Raposa Serra do Sol, provocando uma "epidemia de garimpo" em todo o estado.

Essas sete regiões são vizinhas às entradas e rotas de garimpo da Terra Yanomami. Caso sejam invadidas, além dos Yanomami, os povos Makuxi, Wapichana, Ingarikó, Patamona, Taurepang, Ye'kwana, WaiWai e outros seis grupos isolados podem ser afetados.

Na sexta-feira (10), o Conselho Indígena enviou um ofício ao Ministério Público Federal (MPF) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), relatando a presença de garimpeiros nas regiões. No ofício, o órgão cobrou uma adoção de medidas para enfrentar as ameaças.

Essa hipótese de que garimpeiros em fuga possam ocupar outros territórios já havia sido levantada por especialistas ao g1, que acreditam que essa migração para outros garimpos não só em Roraima, mas também no Pará, pode gerar disputas e agravar os conflitos pelas terras.

Localizadas na região Tabaio, no município de Alto Alegre, ao Norte de Roraima, as Terras Indígenas Boqueirão, Mangueira e Pium se tornaram rotas de garimpeiros nos últimos anos.

Usado por garimpeiros para separar o ouro de outros sedimentos e, assim, deixá-lo "limpo", o mercúrio contaminou o rio Uraricoera, o principal da região, comprometendo a pesca, segundo a denúncia.

Além disso, os garimpeiros instalaram bases dentro da TI Boqueirão, alterando a rotina das comunidades, que passaram a conviver com um fluxo intenso de veículos e pessoas.

Segundo o conselho, os garimpeiros possuem casas na região e usam o território para armazenar equipamentos e materiais usados na extração. Próximo ao rio, a TI também serve como ponto de partida e chegada de embarcações e veículos que transportam pessoas e materiais.

Os indígenas também relatam a presença de informantes, que além de alertar sobre operações policiais e ambientais, atuam identificando lideranças e servidores públicos que combatem o garimpo ilegal.

Nas TIs Araçá, que fica na região Amajari, ao Norte do estado, e Wai Wai, ao Sul de Roraima, também há relatos de presença de garimpeiros. A TI Jacamim, região Serra da Lua, no município de Bonfim, também está sob pressão. A região é considerada uma rota para garimpos na Guiana.

O Conselho teme que Jacamim seja invadida ou se torne rota para os garimpos localizados na fronteira entre Brasil e Guiana, já que existem pontos de garimpo do lado do país vizinho. Lideranças também já identificaram focos de garimpeiros na fronteira com a Venezuela.

De acordo com monitoramento realizado pelo CIR, a Terra Indígena Raposa Serra do Sol também está em risco. A região foi o principal alvo da migração do garimpo ilegal retirado da TI Yanomami na década de 90, quando cerca de 40 mil garimpeiros invadiram o território.

Em março de 2021, o Conselho Indígena afirmou que garimpeiros formaram "favelas" com comércios ilegais dentro da Terra. À época, eles afirmaram que havia um bar e um mercado, ambos ilegais, atendendo os invasores.

A Raposa Serra do Sol tem 1,7 milhão de hectares e é uma das maiores terras indígenas do país. Ela fica dividida entre os municípios de Normandia, Pacaraima e Uiramutã, todos ao Norte do estado. Segundo o Instituto Socioambiental, há cinco povos que somam 26.048 indígenas vivendo no local.

Crise humanitária Yanomami

Em janeiro deste ano, o presidente Lula esteve em Roraima para acompanhar a crise sanitária dos Yanomami. Na ocasião, ele prometeu pôr fim ao garimpo ilegal na Terra Yanomami. Ele classificou a situação dos indígenas doentes como desumana.

A Terra Yanomami tem mais de 10 milhões de hectares distribuídos entre os estados de Amazonas e Roraima, onde fica a sua maior parte. São cerca de 30 mil indígenas vivendo na região, incluindo os isolados, em 371 comunidades.

A região está em emergência de saúde desde 20 de janeiro e, inicialmente, por 90 dias, conforme decisão do governo Lula. Órgãos federais auxiliam no atendimento aos indígenas.

As ações de desintrusão - expulsão dos garimpeiros do território - são coordenadas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Com o início das ações de repressão contra a atividade ilegal, como o controle do espaço aéreo, garimpeiros tentam deixar a região.

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PIB:Roraima/Lavrado

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