No Xingu, 600 indígenas são impedidos de votar: "a gente ia votar pra Lula", diz cacique Siraium Kayabi

Amazônia Real: https://amazoniareal.com.br - 30/10/2022
A liderança, que denuncia prefeito bolsonarista, afirma que o transporte coletivo deveria ter chegado em nove aldeias no sábado (29), pois o percurso até a seção eleitoral é de 200 quilômetros em terra batida

Na Terra Indígena Xingu mais de 600 pessoas de seis etnias denunciaram o prefeito bolsonarista Fernando Gorgen (União) por suspender o transporte público para ao menos nove aldeias, o que teria impedido os grupos de votar em Querência, no Mato Grosso. O cacique Siraium Kayabi, da aldeia Ilha Grande, disse à agência Amazônia Real. O transporte coletivo, que é de responsabilidade da prefeitura, deveria ter chegado nas aldeias no sábado (29) para que os eleitores estivessem na cidade na manhã deste domingo (30), em um percurso de 200 quilômetros de estrada de terra entre o território e a 53ª Zona Eleitoral do município. "Nós fomos prejudicados, todos estão revoltados. A gente não tem mais esperança agora de votar, estamos tristes", afirmou o cacique.

Segundo Siraium Kayabi, a decisão do prefeito foi motivada porque a maioria dos eleitores declararam voto no candidato à presidência Luís Inácio Lula da Silva (PT). A decisão teria afetado os povos das etnias Suiá, Kayabi, Kalapalo, Matipu, Nafukuá e Kuikuro. "No primeiro turno o prefeito fez tudo direitinho, mandou os ônibus, agora ele soube do nosso voto é pra Lula e não mandou os ônibus. Nas nove aldeias do parque são mais de 600 eleitores, ele [Gorgen] faz isso porque aqui a grande maioria é Lula", disse a liderança, destacando que até as 15h (horário de Brasília) não havia informações da chegada do transporte coletivo na sua aldeia, a Ilha Grande.

O prefeito Fernando Gorgen não foi localizado pelo telefone celular e nem pelos Whatsapp pela reportagem para comentar a denúncia dos indígenas. A notícia sobre a suspensão de ônibus no Xingu foi divulgada primeiro pelo site MidiaJur.


Na Terra Indígena Xingu são mais de 3.000 eleitores aptos a votar. A Amazônia Real procurou a assessoria de imprensa do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Mato Grosso e, no primeiro momento, o órgão negou que o prefeito Fernando Gorgen tenha impedido o transporte público no Parque do Xingu. E confirmou que o transporte público é de responsabilidade do município. "Foram enviados 19 ônibus, não sabemos informar quantas pessoas são e os nomes das aldeias, mas não é verdade que o prefeito impediu. Apenas para uma aldeia não foi o ônibus porque o cacique [Siraium] não quis. Conversei com o chefe do cartório da 53ª Zona Eleitoral de Querência, ele falou com o cacique pela manhã. Foi o próprio cacique que pediu para não ir. Os demais foram atendidos. Mantemos a mesma rota que no 1o turno", disse a assessoria. Depois de ser questionada pela agência que não tinha ônibus na aldeia Ilha Grande até essa tarde, a assessoria informou que iria averiguar a situação. Mas até o fechamento desta reportagem não retornou com uma explicação sobre o caso.

Ouvido novamente, o cacique Siraium Kaiabi disse que até as 15h40 não havia ônibus na aldeia Ilha Grande. "Se o ônibus sair agora de Querência, vai chegar aqui 18h [no horário de Brasília], aí vai passar da hora da votação, será que a urna vai esperar a gente até lá? Foi isso que falei para o pessoal da Justiça Eleitoral, que foi a minha dúvida", disse o líder.

A liderança indígena disse ainda que muitos eleitores foram para a estrada aguardar os coletivos na noite de sábado (29). "Os ônibus deveriam ter chegado ontem [29]. Eles [os motoristas] iriam dormir aqui e hoje cedo seguíamos a viagem para chegar em Querência por volta das 8h. É por isso que ficamos na estrada ontem aguardando e nada de ônibus chegar. É por isso que estamos fazendo essa manifestação porque significa que o prefeito [Fernando Gorgen] não está deixando os eleitores indígenas votar", afirmou o cacique Siraium Kayabi. A cidade de Querência fica a 717 quilômetro de Cuiabá, do Mato Grosso.

Justiça alega chuvas


Juízes eleitorais no TRE do Mato Grosso (Foto: Divulgação-TRE MT)
Em nota divulgada à imprensa agora a tarde, a prefeitura de Querência negou que "eleitores indígenas da região do Xingu em Mato Grosso estão sendo impedidos de votar por falta de logística (transporte)".

A Justiça Eleitoral de Mato Grosso reconheceu que houve atraso no transporte de eleitores indígenas residentes na região do Xingu neste domingo (30), mas por causa das chuvas na região. "A saída dos ônibus estava prevista para sábado (29). Ao todo, 19 ônibus foram disponibilizados pela Prefeitura, sendo utilizados 17, os outros dois, que estavam destinados ao transporte dos eleitores da Aldeia Ilha Grande, não foram utilizados devido a sua dispensa por parte do seu cacique". O cacique Siraium Kaiabi nega a recusa, como disse no texto acima.

"Todas as Aldeias foram atendidas, advindo a votação de todos os seus integrantes, com exceção da Aldeia Ilha Grande, onde o cacique não permitiu a entrada do transporte", disse a nota oficial, sem explicar o total de indígenas transportados para Querência.

Denúncias sobre bloqueio de transporte para eleitores foram recebidas durante todo o dia pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No país, os bloqueios neste domingo (30) foram coordenados pelo diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, que foi obrigado a se explicar, com urgência, pelo presidente do TSE, Alexandre de Moraes.

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