Quem é Célia Xakriabá, que ganhou a alcunha de 'Fátima Bernardes indígena'

O Globo - https://oglobo.globo.com/ela/gente - 22/10/2021
Quem é Célia Xakriabá, que ganhou a alcunha de 'Fátima Bernardes indígena'
Ativista e doutoranda, ela tem um estúdio na aldeia em que mora e apresenta o podcast 'Papo de parente': 'Ocupar esses lugares é um jeito de descolonizar a História'

Marcia Disitzer
22/10/2021

Professora, ativista, doutoranda em antropologia social pela UFMG, e, desde o final de setembro, apresentadora do primeiro podcast indígena do Globoplay, "Papo de parente", ao lado do influenciador digital Tukumã Pataxó. Célia Xakriabá, conhecida como a "Fátima Bernardes indígena", acredita no poder da palavra. "Este é um momento historicamente importante que se inaugura na sociedade brasileira com as vozes indígenas que trazem histórias ancestrais e a força da oralidade", diz ela sobre os oito episódios de duas temporadas, em que gravou ao lado de nomes como Caetano Veloso, Leticia Sabatella e Dira Paes. "A Célia é uma representante legítima. Tem a sabedoria das melhores lideranças deste país e do mundo", diz Leticia.

A ideia do programa de áudio é que o ouvinte se conecte com a cultura indígena. Para isso, a apresentadora responde às perguntas dos convidados - tais como "pode falar tribo?", "por que vocês se chamam de parente?" - e compartilha saberes. "Quando fui chamada para desenvolver o podcast, pensei imediatamente na Célia, que tem um pensamento muito original, carisma e é respeitada entre seus pares", diz a diretora de criação Letícia Leite. Dira Paes faz coro: "Ela é uma das mulheres mais alinhadas com as demandas do universo feminino da atualidade".

A referência à apresentadora Fátima Bernardes se deve ao fato de Célia ter um estúdio na aldeia em que mora, no Território Xakriabá, em São João das Missões, Minas Gerais. "É um prazer muito grande ser comparada a ela, a quem admiro há tanto tempo", diz a ativista, que faz questão de ressaltar que a rádio é comunitária. "Fazemos a ressignificação da voz e do microfone para amplificar a nossa luta."

Conectada e atuante, ela decidiu percorrer o caminho da graduação, do mestrado e do doutorado ao perceber que "a caneta é a arma do século XXI". "Eu me dei conta da importância de a gente ocupar outros espaços para além do chão da aldeia. Ser a primeira (de sua etnia) a ter doutorado me faz questionar o motivo de só agora estarem chegando as primeiras mulheres indígenas à pós-graduação, ao Congresso Nacional...", analisa. Para Célia, esta discussão gira em torno do "racismo da presença e do racismo da ausência". "Porque para sermos considerados existentes, precisamos primeiro dizer que existimos. Porém, no Brasil, muitas vezes nos questionam se somos de verdade. Ocupar esses lugares é um jeito de descolonizar a História", reflete.

Com mais de 75 mil seguidores no Instagram, ela está de malas prontas. Faz parte da delegação da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) para a COP26 (conferência climática anual que reúne mais de 190 nações), de 1 a 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia. O objetivo é reafirmar a importância dos povos originários brasileiros na conservação de florestas. "A demarcação dos territórios indígenas é fundamental para que as consequências das mudanças climáticas sejam barradas. Nós, povos indígenas, devemos ser reconhecidos como pneumologistas: cuidamos do pulmão do mundo."

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