Piora o alcoolismo entre os Maxacali

Hoje em Dia-Belo Horizonte-MG - 04/11/2005
O alcoolismo, o alto grau de desnutrição e a falta de projetos econômicos de auto-sustentação ameaçam os índios Maxakali de extinção. Viciados, transformaram-se em vítimas de 'traficantes de álcool', a quem pagam de R$ 25 a R$ 50 por um litro de cachaça. O dinheiro vem da venda de artesanato e até mesmo do Bolsa-Família. Outras vezes trocam os mantimentos enviados pela Fundação Nacional do Índio (Funai) para a aldeia. 'Bêbados, se agridem e se matam. Neste ano, cinco já morreram por causa da violência encorajada pelo álcool. O problema é gravíssimo'. A constatação é do administrador Regional da Funai de Governador Valadares, Waldemar Krenak, que acredita ser definitiva a audiência pública marcada para os dias 17 e 18 deste mês, em Águas Formosas, cidade vizinha à aldeia, no Vale do Mucuri.
O administrador lembra que nenhum dos problemas enfrentados pelos Maxakali é novo, mas chegaram a um ponto intolerável. 'Os índios estão se armando. A tragédia poder ser maior', argumentou. Em 2004, seis Maxakali morreram em conflitos entre grupos rivais, dentro da aldeia. Os índios serão convocados para a audiência, que, segundo Krenak, não pode ser apenas mais uma. 'Não podemos decidir nada para os índios, porque desta forma não tem dado certo. A solução é deixar que eles mesmos apontem uma solução', disse Krenak.
De acordo com o administrador da Funai, as ações das polícias Militar e Federal não têm sido suficientes para coibir a ação de comerciantes e atravessadores que vendem cachaça aos índios da aldeia, que tem 900 pessoas, divididas entre as comunidades de Água Boa e Pradinho, que ainda conservam religião e língua materna próprias.
'Precisamos coibir esse tráfico de álcool, porque a violência que dizima os Maxakali é originária do alcoolismo', disse Waldemar Krenak. Embora não disponha de números, a desnutrição e as doenças oportunas provocadas pelo alcoolismo podem dizimar a etnia, alegou o administrador da Funai. Outro combustível, segundo ele, é o confinamento dos Maxakali em um mesmo território, fugindo ao costume nômade. 'No passado, quando brigavam, costumavam se mudar para outra área. Agora, têm que permanecer juntos. Isso não faz parte da cultura deles. O resultado são as agressões e as mortes'.
A ampliação do território Maxakali é uma reivindicação antiga. Com a ocupação, pelos índios, de dez propriedades em Santa Helena de Minas, em agosto deste ano, a solução pode ser agilizada, acredita Waldemar Krenak. O Incra avalia a transferência dos fazendeiros para outra região, e a Funai finaliza o estudo realizado mês passado por um antropólogo na área. Os resultados serão apresentados na audiência. 'Devolver a paz para aquele povo é muito difícil. Só eles podem nos ensinar o caminho. Os Maxakali devem ser ouvidos, pois, do contrário, nada que se fizer dará resultado'. Representantes da Funai, Funasa e Incra de Brasília e Minas Gerais, das polícias Civil, Militar e Federal, Ministério Público e Judiciário vão participar da audiência com os representantes das duas aldeias.
PIB:Leste

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