Caravana do Esporte e das Artes chega a Lábrea, no Amazonas

Revista Brasileiros - www.brasileiros.com.br - 29/08/2015
Programa leva a pedagogia do esporte e da arte para lugares de baixo IDH do Brasil



Foco de intensos conflitos por terra entre grileiros e indígenas, o município de Lábrea, a 702 km de Manaus (AM), recebe a Caravana do Esporte e das Artes nesta semana. A Brasileiros acompanhou parte desta etapa, a convite da ESPN.

O projeto esportivo foi concebido pelo jornalista José Trajano em 2004 e três anos depois foi incluída a programação artística. A Caravana já passou por mais de 100 municípios com baixo ou médio IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), escolhidos pela Unicef. O programa desenvolve oficinas com crianças e capacitação de professores da rede municipal durante 4 dias. Estima-se que cerca de 3 mil alunos participarão das atividades até o fim do programa. Com apoio do Instituto Esporte Educação, da ESPN, do Instituto Mpumalanga, da Unicef e da Disney, a idéia do projeto é levar a pedagogia do esporte e da arte por todo o País. Nesta edição do programa, os atletas convidados foram Erika Coimbra, jogadora de vôlei, e Gilberto Silva, pentacampeão pela Seleção Brasileira.

Metade dos 40 mil habitantes de Lábrea vive no interior do município, divididos em cerca de 70 aldeias que ficam de 30 minutos a 10 dias de distância de barco da cidade. No dia de chegada, a equipe enfrentou uma caminhada de 40 minutos sob o forte calor para conhecer a aldeia Copaíba, dentro da Terra Indígena Caititu, onde vive o povo apurinã. Com os corpos e rostos pintados, diversos acessórios de penas e sementes, os habitantes da aldeia fizeram uma apresentação de música e dança. Zé Bajaga, coordenador da Focimp (Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus), foi quem acompanhou a equipe.

A região do Médio Purus alcança seis municípios, aproximadamente 60 mil indígenas e 16 povos diferentes. Durante a visita, Bajaga falou das carências sofridas pelos indígenas nas aldeias e da importância em manter viva a cultura local. Para ele, a maior dificuldade é a discriminação com relação aos índios."Meu filho estuda na cidade e foi ridicularizado por todos ao cantar uma música na língua apurinã. Somos 40% dos habitantes de Lábrea e agora ele tem vergonha de falar a língua materna e de vários outros aspectos da nossa cultura".

Bajaga diz que ele e diversas lideranças indígenas da região sofrem ameaças constantemente. "Tem invasão por todos os lados porque é próximo à cidade. São invasões por caça, pesca, madeira, pedras preciosas. Aqui é uma área demarcada e homologada, mas quem fiscaliza isso? Na região tem muito fazendeiro e estão tirando tudo da nossa terra. Como que nossas crianças vão sobreviver? A gente depende dessa terra".

O sul do Amazonas é a região do estado com maior índice de conflito por terra. No relatório da Comissão Pastoral da Terra de 2013, das 40 pessoas ameaçadas no Amazonas, 21 estavam em municípios do sul.

Bajaga também falou sobre a necessidade de levar educação de qualidade às aldeias. A partir da 5ª série, as crianças têm de ir até a cidade para estudar. Quanto à saúde, o cacique falou que precisam de um outro tipo de atendimento, que contemple também os tratamentos tradicionais cultivados pelos pajés. Bajaga falou que criou um grupo de atendimento para combater o alcoolismo, um dos principais vícios da cidade a invadir as aldeias.

No segundo dia, o caminho a ser percorrido foi sobre a água. Os convidados navegaram de "voadeira", um tipo de barco motorizado, pelos rios Purus e Ituxi para chegar à aldeia Ilha Verde, do povo paumari. A Caravana organizou uma atividade com esporte e música, com cerca de 40 crianças indígenas.

Diferente de Bajaga, o cacique de Ilha Verde disse que o sistema de saúde para os indígenas funciona bem. No posto de saúde, trabalham duas enfermeiras por vez, trocadas a cada mês, e um médico do Programa Mais Médicos, que vem a cada dois meses. O posto atende seis aldeias da região. "Os médicos são todos cubanos, são ótimos. Antes do Mais Médicos não vinha ninguém", disse a enfermeira Ruliane Freitas. Além disso, é contratado um agente de saúde indígena, que vive na aldeia e faz o meio de campo entre os moradores e os funcionários de saúde. "Em algumas aldeias existe a cultura de plantar ervas e usar remédios caseiros. Aqui eles não têm esse tipo de conhecimento", disse Ruliane.

Nessa época do ano, a principal doença a ser tratada é a malária. De acordo com as enfermeiras, desde janeiro foram feitos mais de 400 exames só naquela aldeia. Em julho, foram diagnosticados 43 casos. De acordo com as funcionárias, não faltam remédios ou equipamentos. A maior dificuldade é o transporte até as aldeias mais distantes, principalmente quando o rio está seco.

Ao fim do dia ocorreu a abertura oficial da Caravana do Esporte e das Artes, que lotou a praça principal da cidade. "Só fica cheio assim em festa de fim de ano", disse uma moradora que observava o movimento.

No dia seguinte começaram as atividades, das quais participaram cerca de 500 crianças. Esportes como futebol, vôlei, arco e flecha, dança e percussão foram ensinados. Ao mesmo tempo, uma tenda da Disney passava "Tarzan" em um telão. Ao fim do filme, pessoas vestidas de Mickey e Pateta apareceram para brincar e tirar fotos com as crianças. A Disney passou a apoiar a caravana em 2014.

De acordo com Adriana Saldanha, uma das fundadoras da Caravana do Esporte, o principal é garantir que o programa não seja uma ação pontual - daí a importância da capacitação dos professores. Ao fim das oficinas, é entregue um plano de metas ao poder público, para que as metodologias possam ser introduzidas no currículo das escolas da rede municipal. "O nosso objetivo é ensinar o esporte para todos. Não só para quem é talentoso, para quem pode virar atleta. Já está comprovada cientificamente a importância do esporte no desenvolvimento da criança e do adolescente", diz Ana Moser, fundadora do Instituto Esporte e Educação.

http://brasileiros.com.br/2015/08/caravana-esporte-e-das-artes-chega-labrea-no-amazonas/
PIB:Juruá/Jutaí/Purus

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