Justiça determina demarcação da terra Xucuru-Kariri

Primeira Edição (Maceió - AL) - www.primeiraedicao.com.br - 23/03/2015
Ao aproximar-se do Dia do Índio, 19 de Abril, os Xucuru-Kariri receberam da Justiça Federal a garantia do direito da demarcação de 6.927 hectares, parte do território tradicional de 36 mil hectares, no último dia 18 de março do ano em curso, prolatada pelo juiz Antonio José de Carvalho Araújo, 8ª Vara Federal de Arapiraca, determinou que a Funai e a União fizessem a desintrusão no prazo de 6 meses. A área, depois de seis relatórios de identificação da Funai, no final de 2010, o ministro da Justiça José Cardoso publicou Portaria delimitando o território Xucuru-Kariri.

O povo Xucuru-Kariri está organizado nas comunidades Coité, Fazenda Canto, Cafurna de Baixo, Amaro, Mata da Cafurna, Capela e Boqueirão, com uma população aproximada de 3 mil pessoas, município de Palmeira dos Índios, agreste alagoano. A presença dos primeiros colonizadores data de 1770 na região com a chegada de Frei Domingos de São José, ocupando o patrimônio territorial e destruindo a cultura indígena, possibilitando a invasão pela população urbana, fazendeiros e pequenos posseiros.

Em relatório oficial de 1872, o então presidente da Província de Alagoas, Luiz Rômulo Peres Moreno, comunicou ao Ministério da Agricultura Comércio e Obras Públicas, que: "As intituladas aldeias que só serviam para manter conflitos entre mestiços que se dizem índios... Procedendo as razões constantes do meu ofício de 03 de maio, por aviso de 17 de junho autorizou o mesmo Ministério a tornar efetiva a extinção das referidas aldeias".

Com isso reforça a ideia de que com a extinção dos aldeamentos seria feito levantamento da população e o terreno seria dividido e transferido para indígenas, posseiros e poder público. A partir desse momento, iniciou um grande silêncio dos povos indígenas em Alagoas, aparecendo as primeiras vozes somente quase meio século depois, na Republica, em decorrência da criação Serviço de Proteção aos Índios (SPI), em 1910.

Após a criação do SPI, os Xucuru-Kariri começaram a esboçar uma organização, ainda tímida por conta das perseguições implacáveis por parte da polícia e do preconceito da população local. Em depoimento, António Celestino demonstrou a revolta e indignação acerca invasão de sua terra e a retomada da organização Xucuru. Segundo o pajé, tudo começou por meio de seu pai, cacique Alfredo Celestino, entre as décadas de 1930 e 1950, salvando seu povo do extermínio étnico, com o apoio do pesquisador Carlos Estevão de Oliveira Pinto. Na década de 50 iniciou a fundação da atual aldeia Fazenda Canto para buscar e resgatar seu povo que estava disperso nas periferias da cidade.

De 36 mil hectares de terra só restaram 14 tarefas. Mas, mesmo a terra sendo pouca, tornou-se o marco forte para a reorganização Xucuru-Kariri. O pajé Antônio Celestino, afirma: "14 tarefas de 36 mil hectares que era nossa terra pela uma história de demarcação, que o Brasil todo era nosso, dos povos indígenas, vindo não sei de quem essa ideia por demarcação; depois demarcaram e não entregaram, até hoje ainda vivemos em conflito de retomada de nossas próprias terras, que não suportamos viver nelas como escravos, como trabalhador de invasores. Isso é a causa dos Xucurus revoltados".

Na mesma década, conseguiram o apoio do SPI, perderam o medo e denunciaram as repressões no Rio de Janeiro, antiga capital do Brasil. Em seu depoimento, Antônio Celestino relata ainda que deixou a aldeia aos 17 anos para trabalhar fora, e retornou aos 20 anos para as suas origens e junto da família. Após a morte de seu pai, assumiu a liderança do povo com seu irmão Manoel Celestino. Casou-se com a indígena Marlene Santana, com quem teve oito filhos, dos quais se destacou com uma história de luta e suor pelo sonho para ter a terra reconhecida, a líder Maninha Xucuru.

Em 1954, conseguiram a Fazenda Canto, com o apoio do SPI, cerca de 200 hectares. Em 1979, retomaram a Mata da Cafurna, até então na posse da Prefeitura de Palmeira dos Índios. Em 1986, liderada pelo pajé Antônio Celestino, retomaram as terras que estavam no domínio do fazendeiro Everaldo Garrote e do sitiante Pedro Benone. Em 1994, liderada por Maninha Xucuru-Kariri, foi a vez da Fazenda Gibóia, posse do comerciante e fazendeiro Hélio da Purina. Outras retomadas foram realizadas no entorno da Mata da Cafurna, da Mata da Cafurna de Baixo, do Coité e Amaro.

Constata-se que, mesmo considerando a drástica redução territorial, a população Xucuru-Kariri ainda não conseguiu a posse efetiva do que foi determinado pelo poder executivo e judiciário, e, em consequência disso, continua sofrendo ameaças e perseguições dos ocupantes de suas terras tradicionais.

http://primeiraedicao.com.br/noticia/2015/03/23/justica-determina-demarcacao-da-terra-xucurukariri
PIB:Nordeste

Áreas Protegidas Relacionadas

  • TI Xukuru-Kariri
  •  

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.