Feira de sementes busca resgatar autonomia alimentar do povo krahô

MPF/TO - http://www.prto.mpf.mp.br - 16/10/2013
Convidado a prestigiar o evento, Ministério Público Federal comparece ao local que reúne aldeias e visitantes não índios para a troca de sementes, adiada devido ao acidente com os índios que se deslocavam para o evento.


Feira de sementes busca resgatar autonomia alimentar do povo krahô

A 9ª Feira de Sementes do Povo Krahô, que acontece entre os dias 14 e 18 de outubro, na Kapey (local onde se reúnem os representantes das diversas aldeias da terra indígena krahô, nos municípios de Itacajá e Goiatins), teve sua organização abalada por um trágico acidente no qual três índios morreram e mais de 50 ficaram feridos, ainda no primeiro dia do evento. Os índios iam de Goiatins em um caminhão cedido pela prefeitura do município para participar da feira quando o motorista perdeu o controle e capotou na estrada.

A morte dos índios causou grande comoção entre organizadores e participantes da feira de sementes, que chegaram a cogitar o encerramento das atividades. Após deliberação dos índios, que decidiram adiar os rituais fúnebres e dar continuidade ao evento, a feira foi oficialmente aberta nesta quarta-feira, 16. "Se os próprios índios estão superando sua perda e querem dar continuidade, temos também que fazer a nossa parte", disse o indigenista da Funai Fernando Schiavinni, durante a reunião de terça-feira que deliberou pela continuidade da programação, respeitando o adiamento das atividades.

Presente como convidado ao evento, o procurador da República Álvaro Manzano considera importante o trabalho realizado pelos índios, já que a segurança alimentar é uma das maiores preocupações tanto dos índios como dos órgãos indigenistas e de defesa das populações indígenas e tradicionais. Quanto ao acidente, Manzano lamentou a morte dos índios e disse que os procedimentos investigatórios devem ser acompanhados pelo MPF.


Segurança genética

A feira de sementes dos krahô acontece de deis em dois anos desde 2003, com exceção desta edição que acontece três anos após a anterior, realizada em 2013. Além do principal objetivo, que é a troca de sementes e consequente circulação de material genético, a feira é também um momento para articulação política dos índios entre si e com parceiros que apoiam as atividades desenvolvidas pela promoção das aldeias. Acontece pelo interesse da população krahô em diversificar suas sementes e aumentar a segurança genética, garantindo sementes que possam germinar após a colheita e manter a independência em relação a sementes tratadas industrialmente.

Segundo o técnico agrícola Gedem Gonçalves, são muitas as sementes oferecidas e trocadas, basicamente de produtos plantados nas roças tradicionais, como arroz, milho, fava, guandu, diversas variedades de batatas e inhames. Com presença de organizações não-governamentais e instituições como Ruraltins, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Embrapa, vão sendo experimentadas outras espécies quando se nota a possibilidade de cultivo na terra indígena.

A feira é importante porque existe uma dificuldade natural em fazer as trocas de sementes entre as diversas aldeias, além das que possam chegar de outros locais. O espaço comum de troca garante a circulação do material genético, com disseminação interna e externa das sementes.

O período da feira é o que antecede as chuvas, já com o preparo das roças concluído. Nesta época, a maioria das famílias está com as roças derrubadas e queimadas, aguardando o momento de plantar, após as primeiras chuvas. Em termos de autonomia alimentar, o técnico acredita estas feiras já propiciaram uma relativa segurança. As roças formadas com as sementes caboclas, como são chamadas, são responsáveis pela alimentação das famílias que plantam por um dos dois períodos do ano. No outro, devido à ausência de irrigação, ainda persiste a dependência da cidade.

Além das diversas aldeias krahô, foram convidadas 12 etnias das quais já estavam presentes no primeiro dia do evento representantes dos xerente, apinajé, guarani kawoiá (MS), xavante (MT), guajajara (MA), kaxinauá (AC) e kaiapó (PA). Além das trocas e articulações, esta edição da feira também vai fortalecer o intercâmbio para formação de agentes agroambientais e preparar os indígenas para as questões que envolvem seu território e modo de vida.



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PIB:Goiás/Maranhão/Tocantins

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