Escola indígena do AM é a pior no ranking do Enem

IG - http://ultimosegundo.ig.com.br - 19/07/2010
Nota obtida pelos estudantes da comunidade tikuna não chega a um terço da alcançada pela escola melhor colocada no exame

No fim da lista de classificação das escolas que participaram do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2009, está um colégio difícil de se achar no mapa. A Escola Estadual Indígena Dom Pedro I fica na área rural de Santo Antônio do Içá, a cerca de duas horas e meia de barco da sede do município amazonense. Localizada no Alto Solimões, a cidade fica mais perto da Colômbia do que da capital do estado, Manaus.

Por telefone, a reportagem do iG conseguiu falar com o gestor do colégio, o índio Fanito Manduca Ataíde. A escola possui mais de 300 alunos. Dos 58 alunos matriculados nas duas classes do ensino médio no ano passado, 40 fizeram a prova e obtiveram a nota 249,25 (menos de um terço dos 749,7 conquistado pelo colégio Vértice, de São Paulo, primeiro no ranking). A nota ficou também bastante abaixo da obtida pela Escola Estadual Santo Antônio, que fica na sede do município (446,54).

A escola indígena tem 70 alunos na última série do ensino médio e, segundo o gestor, todos vão participar do exame novamente este ano. "É importante participar, se testar. Os alunos daqui também querem chegar a uma faculdade", explica.

Segundo o secretário de Educação do Amazonas, Gedeão Amorim, essa é uma determinação que todas as escolas do estado receberam. "O Enem é importante não só para tentar uma vaga em faculdade. Ele avalia o nível do ensino e nós queremos que todas sejam avaliadas", justifica Gedeão. Além disso, o secretário diz que a comunidade de Santo Antônio de Içá é persistente. "O indígena não desiste nunca. Por mais que ele tenha dificuldade, ele persiste", diz.

O colégio da região urbana de Santo Antônio do Içá tem algumas vantagens em relação ao da aldeia: conta com datashow, computadores com acesso à internet, professores graduados para todas as matérias, além da presença da coordenadora regional da secretaria de Educação, Suzete do Socorro Ribeiro da Costa, constantemente na escola.

Segundo Suzete, que responde tanto pela escola da região rural quanto pela urbana, a principal diferença no desempenho das duas é a dificuldade que a comunidade indígena tem em compreender a língua portuguesa. "O português é a terceira língua deles. Em primeiro lugar vem o tikuna, em segundo, o espanhol e, por último, a língua portuguesa".

Além da língua, as dificuldades para garantir um ensino de qualidade são muitas na escola rural. Fanito conta que faltam professores para algumas disciplinas. Mesmo tendo laboratório equipado com dez computadores conectados à internet banda larga, ele não é utilizado, porque não há quem ensine os estudantes a usá-los. "Os jovens da comunidade estão aprendendo a mexer neles e, às vezes, algum professor digita trabalhos, mas ninguém usa muito essa sala", lamenta.

O secretário de Educação reconhece a deficiência. "No País inteiro, estamos sofrendo com a falta de professores para algumas disciplinas, especialmente as de exatas, como física e matemática. Se na área urbana temos essa dificuldade, imagine na rural", analisa.

Por causa disso, integrantes da própria comunidade estão procurando formação. Dos 21 professores do Dom Pedro I, 13 são indígenas, que lecionam disciplinas como história, filosofia, matemática, língua tikuna, espanhol e química. Os oito professores não-indígenas, que vivem em um alojamento próximo à escola, dão aulas de biologia, artes, língua portuguesa, e religião.

"Mesmo os professores não-indígenas da escola tiveram graduação simples, não são formados para ser professores. Estão fazendo agora um curso de Pedagogia a distância oferecido pelo governo estadual e alguns participam da plataforma Paulo Freire (curso de formação para professores oferecido pelo MEC), mas eles têm muita dificuldade até mesmo para fazer as inscrições nos cursos, pois a internet nem sempre tem sinal e a manutenção dos equipamentos demora demais para acontecer", ressalta a coordenadora regional da Seduc. Segundo ela, o único acesso entre Santo Antônio do Iça e Manaus é por via fluvial e leva cerca de quatro dias.

Enem 2010
A busca do conhecimento fora da aldeia para ajudar no desenvolvimento é o que motiva o jovem Edio, que conclui o ensino médio em 2010 e fará a prova do Enem. Ele adora matemática e pode ser, quem sabe, vir a ser professor de informática do colégio no futuro. "Quero continuar estudando. Vou ser doutor e ajudar a minha comunidade", promete.

Para realizar seu sonho, Edio terá que ir para longe. As opções de curso universitário mais próximas dos estudantes de Santo Antônio do Içá ficam em Benjamin Constant (276 km em linha reta) ou em Tabatinga (260 km em linha reta). Na opinião de Suzete, o interesse dos alunos em buscar uma vaga nas universidades se dá à política de cotas. "Eles estão interessados nessas vagas que as universidades reservam para os indígenas".

Ranking
O iG elaborou o ranking dos melhores e dos piores desempenhos no Enem com base nas médias totais de cada escola. Esse critério considera as médias das notas dos alunos nas provas objetivas (nas quatro áreas do conhecimento) e na redação. Foram consideradas somente as notas do ensino médio regular.

Nos casos em que menos de dez alunos fizeram a redação, não há nota global disponível, por isso, não foram considerados no ranking do iG. O mesmo acontece com as escolas cuja taxas de participação - relação entre o número de matriculados no terceiro ano na escola e a quantidade de participantes no Enem - foi inferior a 2%. Elas e as escolas em que menos de dez participantes participaram do exame também estão fora da lista, pois não tiveram médias totais divulgadas.

Os resultados das médias obtidas pelas 25.484 escolas que oferecem ensino médio regular e participaram da avaliação serão liberados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) nesta segunda-feira. Do total - um número 5% maior em relação a 2008, quando 24.253 escolas participaram do Enem -, 17.898 obtiveram médias globais. Desses, 17.882 tinha, pelo menos, dez alunos matriculados no ensino médio.

As notas das escolas que oferecem a modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) - o antigo supletivo - também foram divulgadas pelo Inep. As regras para as médias globais são as mesmas. Ao todo, 7.670 colégios participaram do Enem, mas 1,4 mil tiveram notas das provas objetivas e redação. O desempenho de todas as escolas, inclusive as que não obtiveram médias globais podem ser conferidas na tabela abaixo.

ATENÇÃO: para fazer a busca da sua escola, não coloque cedilha ou acentos gráficos (acento agudo, circunflexo ou til).

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