Hospital indígena terá entradas diferentes para evitar conflito entre etnias

OESP - https://www.estadao.com.br/ - 24/03/2024
Hospital indígena terá entradas diferentes para evitar conflito entre etnias
Unidade será construída com recursos do PAC e do Fundo Amazônia e terá outras peculiaridades como espaço para rituais

Paula Ferreira

24/03/2024

O Hospital Indígena que será construído pelo governo federal em Boa Vista terá peculiaridades inéditas no serviço hospitalar brasileiro. Com a proposta de ser uma referência nos cuidados dessa população, a unidade será térrea e terá pelo menos duas entradas diferentes para evitar o conflito entre etnias rivais. Há cerca de 15 etnias na região que serão atendidas pela unidade hospitalar e algumas são de povos de recente contato, o que agrava a dificuldade de interação.

Além disso, o complexo arquitetônico levará em conta costumes da população indígena em relação à alimentação, com um refeitório diferenciado, redários, áreas externa de convivência e para rituais. O projeto prevê ainda um local para prática de medicina tradicional para auxiliar na recuperação dos indígenas em tratamento.

O hospital será construído com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento e do Fundo Amazônia, e terá cerca de 80 leitos. O projeto está sob comando da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), comandada pelo ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro.

"Vamos construir um hospital que atenda as especificidades e singularidades dos povos indígenas. Trouxemos uma médica especializada em saúde indígena que vai nos dar dicas. O chão tem que ser diferente, as janelas têm que ser diferentes, as áreas de refeitório têm que ser diferentes, os espaços para rituais", explica Chioro.

O projeto da Unidade de Referência Hospitalar para Saúde Indígena, como vem sendo chamada, é uma das estratégias do governo para debelar a crise no território Yanomami. Recentemente, dados do Ministério da Saúde mostraram um aumento do número de mortes no território em 2023 em comparação com o ano anterior, apesar da criação de uma força-tarefa no governo para conter a crise humanitária.

Em 2023 foram 363 mortes, ante 343 em 2022. O governo argumenta que os dados compilados durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro não são seguros devido ao fato de muitos polos de saúde estarem sem funcionar, o que dificultou a notificação de óbitos.

Em um de seus primeiros atos de governo, Lula viajou ao território e decretou emergência em saúde na região. Na época, o presidente reuniu ministros de diversas pastas para enfrentar a crise. Os dados negativos da crise Yanomami geraram cobranças do Planalto à ministra da Saúde, Nísia Trindade.

O presidente Lula chegou a telefonar exaltado para a ministra para questionar o número de mortes, como mostrou o Estadão. Na última reunião ministerial, Nísia levou uma "bronca" e se explicou sobre pontos sensíveis de sua gestão, incluindo o tema, conforme revelou a Coluna do Estadão.

Hospital dará atenção especial a doenças que assolam mais comumente a população indígena

A Unidade de Referência Hospitalar para Saúde Indígena também dará atenção especial a enfermidades que assolam mais comumente essas populações, incluindo problemas decorrentes do garimpo ilegal. A unidade fará atendimentos de média e alta complexidade, com atendimento bilíngue (em Português e em Yanomami). A expectativa é que as obras sejam concluídas em, no máximo, três anos.

"Não tem como deixar de cuidar da malária, olhar fortemente para tuberculose, de olhar fortemente para intoxicações exógenas, estou falando particularmente das intoxicações por metais pesados, das coisas que são usadas no garimpo. Quando tem essa ocupação desorganizada tem junto um conjunto de problemas: doenças sexualmente transmissíveis. Adicionaria a questão dos transtornos mentais, particularmente os povos mais isolados", afirma Chioro.

Para construção do hospital, o governo federal teve de negociar com o governador Antonio Denarium (PP), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro. Apesar de estar em campo político oposto ao do governo, o gestor facilitou a doação do terreno do governo do Estado para a obra. A cessão do terreno foi negociada pessoalmente pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, e pelo presidente da Ebserh.

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PIB:Roraima/Mata

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