Escavadeiras hidráulicas intensificam a destruição da Amazônia e a violência contra povos indígenas, revela relatório

Conexão Planeta - https://conexaoplaneta.com.br/ - 13/04/2023
Escavadeiras hidráulicas intensificam a destruição da Amazônia e a violência contra povos indígenas, revela relatório

13 de abril de 2023 Mônica Nunes

Nos últimos quatro anos, a Amazônia foi destruída numa velocidade nunca vista e isso aconteceu não apenas devido à posição favorável do governo anterior à criminalidade - desestruturou órgãos ambientais, acabando com a fiscalização e as multas e apoiou o garimpo ilegal -, mas, também, aos equipamentos altamente sofisticados utilizados por garimpeiros, em especial em terras indígenas.

É o que revela o relatório Parem as Máquinas! Por uma Amazônia Livre de Garimpo (nesse link também está a petição 'Amazônia Livre de Garimpo': assine!) produzido pelo Greenpeace Brasil, em parceria com o Greenpeace do leste asiático, que denuncia a presença ostensiva de escavadeiras hidráulicas na Amazônia (cada uma custa 1 milhão de reais!) e a ameaça que representam para os povos indígenas. 42% delas são da empresa coreana Hyundai!

O levantamento inédito foi lançado ontem, 12/4, nas redes sociais e por meio de uma ação pacífica na porta da fábrica da Hyundai, em Itatiaia, no Rio de Janeiro.

Acompanhados por um balão inflável, que simulava uma escavadeira, além de elementos cenográficos como lama, sangue e barrasde ouro que simbolizavam os danos causados pelas máquinas, ativistas do Greenpeace Brasil e lideranças indígenas exibiram faixas com as mensagens Amazônia Livre de Garimpo, Parem as Máquinas! e Fora Garimpo.

Para marcar este dia, o relatório também foi entregue na fábrica da empresa na Coreia do Sul (em Ulsan, a 500 km de Seul) aos cuidados dos executivos.

Retrato dramático
De acordo com o estudo realizado pelas duas organizações, as escavadeiras têm imprimido velocidade assustadora à destruição da floresta amazônica: imagine que, em 24 horas, uma única máquina faz o trabalho que três homens levariam 40 dias para fazer!

De 2021 até agora foram identificadas 176 escavadeiras ilegais em três Terras Indígenas: Kayapó (PA), Munduruku (PA) e Yanomami (RR/AM), que respondem por 90,3% da área garimpada atualmente na Amazônia, segundo o Instituto Socioambiental (ISA).

As primeiras notícias da "invasão" dessas máquinas surgiram em 2010; e "lideranças Munduruku relatam ter visto as primeiras escavadeiras dentro do território em 2014", conta o relatório. Mas foi com Bolsonaro que as escavadeiras proliferaram.

Em 2021, o projeto Mapbiomas revelou que a área garimpada nas Terras Indígenas brasileiras havia aumentado 625% em relação a 2010. No ano passado, o Greenpeace Brasil denunciou a presença desses equipamentos, pela primeira vez, no alto rio Catrimani, na Terra Yanomami. Em março deste ano, de acordo com o relatório, havia 88 escavadeiras no território do povo Kayapó.

Do total de máquinas que destroem terras indígenas na Amazônia, 75 (cerca de 42%) são da marca sul-coreana Hyundai (HCE Brasil), 25 da LiuGong e 20 da Caterpillar, e as demais (56) levam a assinatura da Volvo (Suécia); Sany (China); John Deere (EUA); Komatsu (Japão); Link-Belt (EUA); XCMG (China); Case (EUA); e New Holland (EUA).

E o que elas têm a ver com isso? Tudo! Já não é mais possível dizer que essas empresas não têm responsabilidade e tão pouco sabem o destino que seus clientes dão aos equipamentos que compram. Toda empresa, aliás, é responsável pela cadeia de fornecedores e clientes que envolve o seu negócio. Por isso, o apelo do Greenpeace - Parem as Máquinas! - é para que essas empresas parem de comercializar seus equipamentos sem pesquisar antes quem é o interessado.

Assim, podemos dizer que tem sangue indígena nas mãos dos executivos da Hyundai e das empresas listadas pelo relatório do Greenpeace. E que é urgente que elas se manifestem e tomem providencias para que esses criminosos não tenham mais acesso a equipamentos tão sofisticados e continuem devastando a Amazônia.

A presença das escavadeiras define o "retrato dramático que o garimpo ilegal causa nesses locais", destaca o Greenpeace Brasil: "Os Yanomami sofrem com malária e desnutrição; e os Kayapó e os Munduruku são vítimas da contaminação por mercúrio, que tem afetado principalmente mulheres e crianças".

E a organização acrescenta: "Todos esses povos sofrem ainda com o assoreamento e morte dos rios, trabalhos forçados, violências (física, psicológica, sexual) e a desestruturação social que o garimpo provoca nas aldeias e comunidades".

Aliança em Defesa dos Territórios
Devido à essa terrível realidade, em agosto de 2021, durante o acampamento Luta pela Vida, em Brasília, lideranças dos povos Kayapó, Munduruku e Yanomami se uniram para escrever um documento em repúdio à atividade garimpeira: 'Terra Rasgada: como avança o garimpo na Amazônia brasileira'.

A carta-manifesto foi assinada por nove organizações indígenas e gestou a proposta da Aliança em Defesa dos Territórios, coalizão de luta contra o garimpo ilegal, que tem o apoio de instituições como o Instituto Socioambiental (ISA) e o Greenpeace Brasil.

Esse movimento se desenvolveu ao longo de 2022 em ações promovidas pelas lideranças desses povos em seus territórios, em mobilizações nas capitais e, ainda, fora do Brasil. E produziu registros importantes - o dossiê indicado acima - e um documentário: Escute: a terra foi rasgada!

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