Presidente da Funai precisa sair já

FSP - https://www1.folha.uol.com.br/opiniao - 22/06/2022
Presidente da Funai precisa sair já
Marcelo Xavier da Silva trabalha ativamente contra os direitos dos povos indígenas

22.jun.2022 às 11h10

Angela Kaxuyana
Coordenadora-executiva da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab)

Maria Emília Coelho
Assessora da Coiab e membro do OPI (Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato)

- Campanha "Isolados ou Dizimados" *

Quando o paradeiro do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips ainda era uma incógnita, o presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Marcelo Augusto Xavier da Silva, difamou os dois profissionais.

Em meio ao desespero das famílias e dos amigos, o mais alto representante do principal órgão indigenista do país escolheu criminalizar Bruno e Dom, em sintonia com o presidente Jair Bolsonaro (PL) que, dias antes, sugeriu que os dois haviam embarcado em uma "aventura".

A postura de Xavier não surpreende. Afinal, desde antes de sua chegada à presidência da Funai, em julho de 2019, o delegado da Polícia Federal agia contra os direitos dos povos indígenas. No cargo, passou a sabotar o trabalho dos servidores da instituição.

Poucos meses depois, em outubro daquele ano, Bruno foi exonerado da Coordenação Geral da CGIIRC (Coordenação Geral de Índios Isolados e Recém-Contatados) após uma operação contra o garimpo ilegal na terra indígena Vale do Javari.

Licenciado sem remuneração, o indigenista passou a atuar como colaborador da Univaja (União das Organizações Indígenas do Vale do Javari) na defesa do território com a maior concentração de povos isolados no Brasil.

Conforme revelou dossiê do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) e da associação que representa servidores e indigenistas da Funai, a INA, são abundantes os retrocessos e ilegalidades no órgão sob a gestão de Xavier.

Segundo o levantamento, o presidente da Funai boicota a demarcação de territórios indígenas, persegue funcionários concursados e lideranças indígenas e aplica uma militarização sem precedentes. Atualmente, dos 39 coordenadores regionais do órgão, 22 são militares ou policiais -apenas dois são servidores de carreira.

Ainda de acordo com análise feita da agenda oficial de Xavier, ele realizou somente dois encontros com indígenas em 2022, dedicando a maior parte do seu tempo a reuniões com ruralistas, grupo que pressiona pela ocupação de terras indígenas no Brasil.

Em entrevista à Folha, publicada após sua morte, Bruno denunciou que Xavier trabalhava para ruralistas e impedia ativamente a demarcação de territórios. Segundo ele, o presidente da Funai exercia uma "administração do caos".

As invasões no Vale do Javari por criminosos são um retrato fiel da política anti-indígena do atual governo. A omissão do Estado, nesta e em outras terras indígenas de todo o país, tem impulsionado e empoderado invasores que, com a certeza da impunidade, se sentem livres para praticar seus crimes.

Com a confirmação da brutal execução de Bruno e Dom, a permanência de Xavier na presidência da Funai representa uma afronta aos servidores da Funai, aos indígenas, às famílias e à memória dos assassinados.

Unimo-nos ao chamado dos servidores e servidoras da Funai, que entram em greve nesta quinta-feira (23) pela saída de Xavier e pela devida investigação e responsabilização dos envolvidos no caso de Bruno e Dom.

Justiça por Bruno e Dom! Por uma Funai indigenista e para os povos indígenas!

* A campanha "Isolados ou Dizimados" é encabeçada pelas organizações Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) e OPI (Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato) e conta com o apoio do Instituto Socioambiental (ISA), da Survival International, da Opan (Operação Amazônia Nativa), da ONG Uma Gota no Oceano e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)

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