Com 123 invasões, MS é campo de guerra entre índios e fazendeiros

Campo Grande News- http://www.campograndenews.com.br - 11/10/2016
O conflito por terra entre índios e fazendeiros é um barril de pólvora que já começou a explodir e continua manchando de sangue o solo de Mato Grosso do Sul, que neste dia 11 de outubro comemora 39 anos criação.

De um lado estão os guarani-kaiowá e terenas que lutam pela demarcação de territórios que consideram tradicionais e do outro estão produtores rurais, de grandes fazendeiros a pequenos sitiantes, como os sete de Dourados, que estão com as terras invadidas pelos "vizinhos" desde março.

Quanto mais o tempo passa sem uma solução por parte dos governantes, mais áreas são ocupadas e mais confrontos com mortos e feridos aumentam as estatísticas. Os produtores rurais contam os dias para a próxima invasão e os índios perdem o sono esperando outro ataque na madrugada.

As áreas em disputa se espalham por várias regiões de Mato Grosso do Sul, mas a maioria está nos municípios do sul e da fronteira com o Paraguai.

As exceções nas outras regiões são Buriti de 17,2 mil hectares, localizada nos municípios de Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti e reivindicada pelos terenas, Cachoeirinha de 36,2 mil hectares em Miranda, e Taunay/Ipegue de 33,9 mil hectares, em Aquidauana.

De acordo com a Funai (Fundação Nacional do Índio), existem 48 áreas indígenas em Mato Grosso, contando as delimitadas, declaradas, homologadas, regularizadas e em estudo.

Nem mesmo um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) assinado com o Ministério Público Federal foi suficiente para acelerar os estudos e o confronto continua.


Amambaypeguá I


A maior de todas as áreas reivindicadas pelos índios em Mato Grosso do Sul é Dourados-Amambaipeguá I, que tem 56,6 mil hectares e atinge terras de Dourados, Amambai e Naviraí.

O estudo de identificação e delimitação foi assinado em maio deste ano, "no apagar das luzes" do governo Dilma Rousseff e desencadeou o confronto ocorrido no dia 14 de junho, na fazenda Yvu, em Caarapó, a 283 km de Campo Grande.

Foi por causa desse decreto que os índios da aldeia Tey Kuê decidiram ampliar a reserva e ocuparam a fazenda onde seis deles foram feridos a tiros e o agente de saúde indígena Clodioude de Souza, 26, morreu atingido por cinco disparos.

Nos dias seguintes ao ataque dos fazendeiros - cinco deles estão presos pelo atentado - outras duas fazendas e sete sítios nos arredores da aldeia foram invadidos e os índios permanecem nas terras.

O TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região, em São Paulo, negou o pedido da Funai e manteve a reintegração de posse da área. A Funai recorreu ao STF, mas ainda não há uma decisão.


Mais terras


Outra área reivindicada pelos índios, a Iguatemipeguá I, de 41,5 mil hectares, no município de Iguatemi. Já a Iguatemipeguá II ainda está em estudo e seu tamanho não é conhecido, mas a área vai atingir os municípios de Amambai, Aral Moreira, Coronel Sapucaia, Dourados, Iguatemi, Paranhos e Tacuru.

Sem contar as áreas já regularizadas e homologadas e as que estão em estudo e por isso ainda não têm extensão conhecida, as declaradas e delimitadas somam 273 mil hectares em vários municípios.


Invasões x retomadas


De acordo com a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), atualmente existem 123 propriedades ocupadas por índios no Estado.

Para os proprietários, as terras estão invadidas. Para a Funai e os índios, as áreas foram "retomadas".


Antonio João


As áreas ocupadas pelos índios se espalham por Mato Grosso do Sul. Entre os pontos de confronto está Ñanderu Marangatu, no município de Antonio João, onde há duas décadas os guarani-kaiowá e fazendeiros disputam um território de 9.300 hectares, bem ao lado da fronteira com o Paraguai.

Em agosto de 2015, em mais uma "retomada" que o grupo fez às terras dez anos após o STF anular a demarcação, o índio Semião Fernandes Vilhalva, 24, foi morto com um tiro na cabeça em confronto com fazendeiros na sede da Fazenda Fronteira. Até agora a Polícia Federal não apresentou um resultado para a investigação.

Em outubro, com as terras ocupadas cercadas pelo Exército, policiais federais e militares prepararam grande operação de guerra para fazer o despejo, mas uma decisão do STF suspendeu o despejo horas antes de a polícia entrar nas fazendas ocupadas.

Um ano depois, a situação em Antonio João continua a mesma. Os índios continuam acampados em três fazendas, o Exército saiu do local ainda em 2015 e os fazendeiros não fazem ideia de quando poderão retomar suas propriedades.

A morosidade verificada Antonio João é a mesma, presente em várias outras áreas de conflito em Mato Grosso do Sul, onde índios morando em barracos sofrem ataques de jagunços e produtores rurais já perderam a esperança de ver uma solução por parte do governo.



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PIB:Mato Grosso do Sul

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