Mutirão leva atendimento a 2 mil índios do AM

Folhamax- http://www.folhamax.com.br - 28/07/2016
A Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde (Sesai/MS) em parceria com o projeto Expedicionários da Saúde realizou neste mês, a 35ª edição da Expedição de Saúde, no município de Barreirinha (AM). O trabalho voluntário de 200 profissionais, entre eles médicos, enfermeiros, dentistas, agentes indígenas de saúde, possibilitou a realização de cirurgias e atendimentos especializados em áreas remotas do leste do estado de Amazonas.

"Estamos muito felizes com este momento, com a vinda desta grande expedição para nossas aldeias. Quero agradecer muito a participação de cada um dos que ajudaram, desde o primeiro momento, na montagem da estrutura, aos médicos que vieram de longe para atender nossos parentes, pois sem o envolvimento de todos, esta expedição não sairia", disse o Tuxaua representante das 11 aldeias do Polo Base de Umirituba, Lúcio Saterê, durante a expedição.

O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) Parintins, Miguel Mayawakna, morador da aldeia Bilontra, na região do Alto Nhamundá, lembrou que há sete anos a mesma expedição esteve no mesmo local e que, desde então, a comunidade aguardava ansiosa pelo seu retorno. "O grande diferencial desta ação é que ela acontece toda em Terra Indígena, o que ajuda muito no deslocamento e acomodação dos nossos parentes, que não querem sair de área indígena para ir para as cidades".

Outra importante peculiaridade da ação, apontada por Miguel, está na rapidez com que os procedimentos são executados, o que garante um retorno rápido do paciente a sua casa. "A gente sabe e vê no dia-a-dia como é difícil realizar uma cirurgia ou um atendimento especializado no Sistema Único de Saúde (SUS). Muitos 'parentes' vão pra Casai (Casa de Saúde Indígena) no município e ficam semanas ou meses aguardando por uma cirurgia. Muitos deles acabam desistindo e voltando para aldeia com o mesmo problema com que chegou", destacou.


Ação humanitária


Em 35 edições, desde 2004, as equipes dos Expedicionários da Saúde já realizaram mais de seis mil cirurgias e mais de 35 mil atendimentos especializados. A área coberta pelas ações dos voluntários é equivalente ao território da França, sendo a grande maioria de terras indígenas demarcadas.

Nesta edição que acontece em Parintins, a expedição levou um diferencial: a entrega de óculos de grau após as consultas oftalmológicas. Até o fim da expedição, cerca de 1000 indígenas serão contemplados com a entrega de óculos, que certamente ajudarão a melhorar a qualidade de vida de quem vive na floresta.

"Durante as visitas que realizamos nas precursoras para conversar com a comunidade, ficamos muito sensíveis com os relatos que ouvimos de lideranças e professores indígenas, de que havia muitas crianças com dificuldades em sala de aula por conta de problemas na visão. Então fomos atrás de parceiros e nesta expedição vamos priorizar a entrega de óculos, conforme combinado com eles mesmos, para crianças, professores e anciãos", ressaltou a coordenadora do EDS, Márcia Abdala.


Benefícios


Seu Francisco da Paz (60), da etnia Saterê Maué e morador da aldeia Simão, no Polo Base de Umirituba, é um exemplo claro de como os benefícios da ação conseguem convencer até quem resolve participar do mutirão de última hora. Ao acompanhar de longe a triagem de pacientes que iriam ser operados para retirada da catarata, no primeiro dia de ação, ouviu da enfermeira que a cirurgia não demorava mais que 15 minutos e que, no dia seguinte, já poderia retornar para sua aldeia enxergando normalmente.

"Eu tenho um problema na minha visão que me impede de ler e me dificulta enxergar à noite, sinto tudo embaçado e os olhos ficam lacrimejando", disse seu Francisco da Paz ao decidir se juntar ao grupo que seria operado. Horas depois, já na sala de pré-cirurgia, seu Francisco esbanjava confiança e alegria. "Já logo acaba e eu estarei em casa", afirmou.


Qualidade de vida


Seu José Barbosa Filho é Agente Indígena de Saúde (AIS) da aldeia Nova Jerusalém, em Maués (AM). Ele deixou para trás a esposa e os outros quatro filhos e partiu numa viagem de um dia inteiro de barco com a filha do meio, Beatriz Barbosa, de apenas seis anos, para chegar até a Escola Agrícola São Pedro, no Polo Base de Umirituba (AM). Preocupado com as fortes dores abdominais que a pequena indígena vinha sofrendo, o pai não pensou duas vezes quando teve a oportunidade de levá-la para ser operada no mutirão de cirurgias e atendimentos especializados, que teve início no último sábado (9). A pequena Beatriz passou por uma cirurgia de hérnia, e agora pode voltar a fazer tudo que uma criança saudável na idade dela gosta de fazer: correr, nadar, dançar e brincar.

"Agora ela vai voltar a ter uma vida normal, sem dores, sem sofrimento. Isso é motivo de felicidade para mim. Já sabia que se tratava de uma hérnia, mas não tinha coragem de levá-la para cidade para aguardar por uma cirurgia como esta", disse José Barbosa, que é da etnia Saterê Maué.


Parceria


O mutirão se concretiza a partir do voluntariado de equipes logísticas e de saúde e dos investimentos feito pelo Governo Federal e outros apoiadores. "Para que este mutirão em Umirituba fosse realizado, nós colocamos nossas equipes do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) em área desde o mês de fevereiro, para realizar as visitas aos 12 Polos Base de Saúde, conversar com caciques e lideranças, e realizar uma pré-triagem para dimensionar o quantitativo de indígenas a serem operados ou atendidos no mutirão", explica Paula Rodrigues, coordenadora do DSEI Parintins.

De acordo com ela, todo suporte logístico da expedição ficou a cargo do DSEI, desde o transporte, acomodação e refeição dos pacientes indígenas que foram deslocados de diferentes regiões do distrito para o Polo Base onde ocorreu a expedição.



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PIB:Tapajós/Madeira

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