Servidora que ficou detida em aldeia no AC crê em ação 'premeditada'

G1 - www.g1.globo.com - 21/07/2015
Servidores contam que sofreram 'pressão psicológica'. 'Fui surpreendida com o que aconteceu', diz Rútila Lima.


Por quase quatro dias, três servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio) e um da Fundação Nacional do Índios (Funai) foram impedidos de sair da aldeia Nawa, localizada dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor, em Cruzeiro do Sul, no interior do Acre. Mantidos no local por índios que reivindicavam demarcação de terras, eles só foram libertados no sábado (18), após um acordo. Nesta segunda-feira (20), dois dos quatro servidores conversaram com o G1 e relataram os momentos em que ficaram 'presos' no local.

Rútila Ferreira Lima estava na reserva à serviço do ICMBio. Ela, que há mais de 20 anos trabalha com questões indígenas, conta que foi pega de surpresa pela atitude dos índios e acredita que foi tudo premeditado.
"Nosso trabalho lá era renovar o Conselho do Parque para que o ICMBio possa atuar dentro da reserva. Fui surpreendida com o que aconteceu. Eles dizem que não, mas tudo deu a entender que houve uma premeditação.
Ela conta que apesar de não terem sido agredidos fisicamente, houve 'pressão psicológica'.

"Fisicamente não fomos agredidos. Houve um conflito entre os índios, pois a antiga liderança não concorda com o que aconteceu. O que aconteceu de armas fogo e lanças foi entre eles. A única coisa mais grave [que ocorreu] foi com nosso barqueiro, que foi levado algumas praias acima. Soltaram ele na margem e ameaçaram atirar fechas para que ele entrasse na mata", relata.

Rútila rechaça a afirmação da Funai de que eles não eram 'considerados' reféns. "Não fomos visitas, ou hóspedes, fomos reféns. Se fui impedida de voltar para minha casa, fui refém de uma situação. Espero que isso resolva os problemas do povo Nawa e a gente consiga continuar os trabalhos do Conselho do Parque Nacional do Divisor", pediu.

Entre os servidores detidos na aldeia também estava o administrador do Parque Nacional da Serra do Divisor, João Damasceno Filho. Ele confirma que não houve agressão, mas diz que todos os seus passos eram seguidos por dois índios da aldeia.

"Em nenhum momento fomos atacados ou ameaçados. Fico com o psicológico abalado. Teve um único momento em que um deles falou que a coisa poderia ter sido pior, que deveríamos estar amarrados. Para todo lugar que eu ia dois indígenas me acompanhavam, os demais tinham livre circulação, só não podiam sair da aldeia".

João defende o ICMBio e diz que o órgão não tem nenhuma responsabilidade ou culpa pela demora na demarcação da terra reivindicada. "O caso está tramitando na Justiça. Já foi determinada uma área para eles. Mas tudo depende da Justiça", diz.

A decisão de liberar os servidores foi tomada após o recebimento de uma carta do ICMBio se comprometendo a receber 15 indígenas em Brasília. Na carta, eles prometem ainda manter uma conversa permanente até que o processo de demarcação da terra seja concluído.

http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2015/07/servidora-que-ficou-detida-em-aldeia-no-ac-cre-em-acao-premeditada.html
PIB:Acre

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