Efeito da gripe A entre índios é imprevisível, diz perito

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=68353 - 17/08/2009
O impacto da possível circulação da gripe A (H1N1) entre os indígenas é imprevisível. Apesar de muitas tribos viverem isoladas e a penetração do vírus da nova gripe seja mais difícil, Edmilson Migowski, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse temer que se vírus alcançar as aldeias a situação se "complique".

"Complica mais porque eles moram em grandes aglomerações o que se torna um agravante" e o acesso à assistência médica é precário, considerou, ao ressaltar a necessidade de planejamento logístico para o envio de medicamentos às comunidades localizadas em regiões distantes.

"Num país com dimensões continentais como o Brasil, é preciso tomar atitudes agora que a situação está relativamente sob controle, mas há que se pensar, pois pode piorar", alertou.

Migowski ainda ressaltou que a "pouca experiência" com o vírus de gripe A impede perspectivar a dimensão do impacto, mas admitiu a possibilidade de o índice de mortalidade entre os povos indígenas ser maior.

Grupo

Por sua vez, o antropólogo Marcos Braga lembrou que a epidemia pode ser expandida pelo próprio sistema de organização social das tribos, como, por exemplo, nas aldeias de ianomâmis onde vivem até 40 pessoas de famílias diferentes na mesma maloca.

A morte de um índio ianomâmi, na última semana, no Amazonas está sendo investigada sob a suspeita de ter contraído o vírus A.

Contudo, o pesquisador da Amazônia e da questão indígena da Universidade Federal de Roraima compara que os efeitos das doenças transmitidas a partir do contato com o homem branco no passado eram muito mais devastadores.

"No passado uma simples gripe trazia um processo de dizimação. Hoje não, a preocupação ainda é a prevenção, mas a resistência aumentou porque a imunização chegou a muitas malocas das tribos", explicou.

Mesmo assim, Braga reconhece que esta é uma preocupação da saúde pública devido ao perfil epidemiológico dos povos indígenas que são naturalmente mais vulneráveis aos vírus.

Os indígenas, atualmente, estão saindo de suas comunidades para os centros urbanos e, dessa forma, pondera, estão também adquirindo mais anticorpos.

Registros

Braga coordena o Núcleo Insikiran de Formação Superior Indígena da universidade e afirmou que, na instituição, já há uma preocupação em prevenir a gripe principalmente nos 258 alunos indígenas de seis etnias que estão regularmente matriculados.

A primeira morte de um índio pela nova gripe foi confirmada no estado do Rio Grande do Sul (RS). A vítima era um indígena de 49 anos que tinha problemas respiratórios.

Um outro caso ainda não confirmado pelas autoridades é de um bebê de três meses no Estado de São Paulo. A criança pertencia à aldeia indígena de Paranapuã e morreu no dia 6 de agosto no hospital em Santos, no litoral do estado.

O último balanço parcial divulgado pelo Ministério da Saúde brasileiro, no dia 11, contabilizava 192 mortos de gripe A, mas os óbitos registrados em nível estadual e ainda não reunidos pelas autoridades centrais podem fazer disparar o número para mais de 300.
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