Liderança da Terra Indígena Ribeirão Silveira aproveitou cerimônia da Ordem Nacional do Mérito Educativo para entregar pessoalmente cartas solicitando homologação de quatro Terras Indígenas.
Em cerimônia realizada no dia 14 de novembro de 2025, em Brasília, a educadora, artesã, escritora e pensadora indígena Cristine Takuá foi agraciada com a Ordem Nacional do Mérito Educativo, honraria concedida pela Presidência da República a personalidades que se destacam por serviços excepcionais prestados à Educação. A liderança da Terra Indígena Ribeirão Silveira, no litoral norte de São Paulo, aproveitou o momento para entregar pessoalmente ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva cartas solicitando a urgente demarcação de territórios indígenas.
As cartas, elaboradas pela Comissão Guarani Yvyrupa (CGY) e pelas comunidades envolvidas, reforçam a urgência da homologação de quatro Terras Indígenas: Ribeirão Silveira (SP) e as terras Tarumã, Pindoty e Piraí, situadas em Araquari e Balneário Barra do Sul, no litoral norte de Santa Catarina. Os documentos ressaltam que todos os processos já cumpriram as etapas legais e dependem apenas da assinatura presidencial para serem concluídos. No caso da TI Ribeirão Silveira, porém, uma decisão judicial liminar - baseada em argumentos considerados ilegais - impede a União de finalizar a homologação. Por isso, o povo Guarani solicita que o governo federal atue para superar esse obstáculo, promovendo a conciliação entre as partes envolvidas e garantindo a efetivação dos direitos fundamentais por meio da conclusão da demarcação.
"Quando recebi o comunicado dessa honraria, fiquei muito emocionada, porque lembrei de tudo que já passei nessa luta", relata Cristine. A educadora, que foi professora durante 12 anos na Escola Indígena do Rio Silveira, refletiu sobre o significado profundo da homenagem: "O princípio da Escola Viva só faz sentido se houver floresta viva, floresta em pé. A gente precisa da demarcação urgente da Terra Indígena Rio Silveira, mas também de todas as tekoá (aldeias). Porque se não temos uma tekoá tranquila para viver e praticar aquilo que faz sentido, essa educação não contempla o que é realmente importante e verdadeiro", reflete.
A Ordem Nacional do Mérito Educativo, criada em 1955, reconhece o trabalho pioneiro de Cristine como coordenadora do projeto Escolas Vivas, iniciativa que busca fortalecer a transmissão dos saberes tradicionais indígenas, conectando gerações e reconhecendo o território como principal espaço de aprendizagem. O projeto, liderado pela educadora desde 2022, em parceria com a Associação Selvagem - movimento criado por Anna Dantes e Ailton Krenak - atualmente apoia cinco territórios educativos de povos Guarani, Maxakali, Huni Kui e Baniwa, nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Acre e Amazonas.
As Escolas Vivas propõem repensar completamente o modelo educacional imposto aos povos indígenas, valorizando práticas ancestrais de transmissão de conhecimento. "Na Escola Viva, o tempo respeita o processo individual de cada criança e de cada jovem. Todos os conhecimentos estão interligados - o sonho, o modo de fazer, de falar, de lidar com as alegrias e com os problemas", explica Cristine, que denomina essa abordagem de "constelação curricular". A floresta, o rio, a casa de reza e a sombra de uma árvore são considerados salas de aula onde o aprendizado acontece em diálogo com a natureza, as crianças e os anciãos.
"Não há escola viva se não houver floresta em pé"
O caso da Terra Indígena Ribeirão Silveira é emblemático: declarada de posse permanente dos indígenas em 2008, sua homologação está impedida há mais de 15 anos por uma decisão liminar proferida no Supremo Tribunal Federal sem a intimação do povo Guarani. O território, tradicionalmente ocupado pelos grupos Guarani Mbyá e Ñhandeva, é composto em sua maior parte por remanescentes de Mata Atlântica cuidados pelo povo Guarani em conjunto com a gestão do Parque Estadual da Serra do Mar. Já as terras de Santa Catarina - Tarumã, Pindoty e Piraí - possuem portarias declaratórias publicadas entre 2009 e 2010 e demarcações físicas concluídas, estando tecnicamente prontas para homologação.
"Não há escola viva se não houver floresta em pé: e só pode haver floresta em pé se ela puder ser cuidada pelos povos originários, pois não há biodiversidade possível sem os conhecimentos tradicionais associados a ela", enfatiza Cristine.
A entrega das cartas ao Presidente Lula representa um momento simbólico em que a luta pela educação indígena se encontra com a demanda fundamental pela demarcação territorial. Para Cristine a honraria recebida ganha seu verdadeiro sentido quando conectada à possibilidade de viver com segurança e dignidade nos territórios ancestrais: "Para mim, a educação só faz sentido se a gente tiver um território tranquilo para viver, água limpa para beber e crianças podendo circular livremente, sem perigo ao lado", conclui a educadora.
https://www.yvyrupa.org.br/2025/11/28/educadora-indigena-cristine-takua-recebe-honraria-nacional-e-leva-ao-presidente-lula-demandas-por-demarcacao-de-territorios-guarani/
PIB:Sul
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