Yanomami: entenda o que está acontecendo com os povos indígenas

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Yanomami: entenda o que está acontecendo com os povos indígenas
À medida que o garimpo avança, a floresta é desmatada e a saúde dos Yanomamis fica debilitada - até que chegamos ao ápice da desnutrição e doenças 'evitáveis'

Malu Pinheiro
01/02/2023

Nos últimos dias, o governo federal decretou estado de emergência em saúde pública nas Terras Yanomamis - desde então, vídeos e fotos que retratam a situação desumana que acomete os povos indígenas estão circulando na mídia e redes sociais. "O decreto publicado na noite desta sexta-feira (20), no Diário Oficial da União, institui o Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária e prevê a criação de ações de enfrentamento à crise sanitária no território Yanomami, e aos problemas sociais e de saúde dela decorrentes, no prazo de 45 dias", escreveu a ministra dos Povos Originários, Sônia Guajajara, em suas redes sociais.
Em viagem a Boa Vista, município de Roraima, e ao lado do atual presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, Sônia afirmou que indígenas estão morrendo de "mortes evitáveis", como desnutrição, diarreia e malária. Para começar a entender um pouco sobre como chegamos a esse ponto, vale dar um passo atrás.
Os Yanomamis são uma população de cerca de 30 mil pessoas, que vivem em um território contínuo entre o Brasil e a Venezuela. Em nosso País, eles se organizam em mais de 350 comunidades distribuídas em uma região que abrange os estados de Roraima e Amazonas. O território foi reconhecido pelo Governo Federal, em 1992, como uma região de uso exclusivo dos Yanomamis e também dos Ye'kwan (uma população de cerca de 850 pessoas).
Antes de irmos para os dias atuais - e a triste situação em que eles se encontram -, vale dar o play neste vídeo, produzido em novembro de 2019, no 1o Fórum de Lideranças da Terra Indígena Yanomami, para conhecer mais sobre os povos:
O que está acontecendo com os Yanomamis?
Glamour conversou com Marília Senlle, pesquisadora da Rede Pró-Yanomami e Ye'kwan, que acompanha os povos Yanomamis de perto desde 2017 e, para ela, a mudança de governo permitiu que essa situação ficasse mais visível. "Eles já vêm denunciando há bastante tempo o agravamento da invasão garimpeira - inclusive antes do governo Bolsonaro, mas isso se intensificou ainda mais nos últimos quatro anos", diz.
Com a criação dos Ministério dos Povos Originários, sob o comando de Sônia Guajajara, o governo se mostrou preocupado em resolver essa situação - que já estava relatada há tempos em ofícios e relatórios entregues a todos os órgãos federais.
A chave dessa problemática está no garimpo. Os Yanomamis - que são povos de recente contato com a população não-indígena - produzem roça, são caçadores e coletores de frutos e alimentos, mas à medida que o garimpo avança, eles são fragilizados. "O garimpo gera o desmatamento das suas áreas, então os impossibilita de fazer sua roçagem; gera uma dispersão da caça, porque em floresta derrubada o animal vai embora; e ainda traz doenças", explica Marília.
Como chegamos a esse ponto?
À medida que o garimpo avança, a saúde dos Yanomamis fica debilitada, o que também dificulta a capacidade deles de trabalhar nas roças, e o Sistema de Saúde se desestrutura. "Tudo isso inviabiliza o cuidado básico dessas pessoas e gera esse círculo vicioso em que você já não tem área para roçar e para caçar, e eles ficam reféns dos garimpeiros", afirma.
As imagens chocantes que vimos nos últimos dias também é uma prova do quão desesperado o povo Yanomami está. Isso porque eles, dentro de sua cosmologia, entendem que o registro de uma imagem é também o registro de uma parte da pessoa - e, se você registra uma parte da pessoa, você pode fragilizar a sua saúde. "Eles não permitem que se tire fotos ou faça vídeo de alguém que está doente, porque ela pode morrer por esse registro. Então, essas imagens que estão comovendo as pessoas, são também um resultado de um desespero gigante deles para se fazerem ouvir e serem vistos", explica Marília.
Como ajudar os Yanomamis?
De forma imediata, a principal forma de ajudar o povo Yanomami é através de doações para instituições sérias que estejam fazendo essa arrecadação. "É um gesto muito bonito a doação de cesta básica, mas no caso das pessoas que estão sofrendo com a desnutrição ela não é a melhor saída. É preciso outro tipo de suplemento alimentar, por isso é mais interessante doações para instituições bem estruturadas e que são de confiança", pontua a pesquisadora.
Mas, para além do imediatismo, é preciso que a pauta entre no debate da sociedade civil todos os dias. "É preciso se manter vigilante. Não é uma situação que será resolvida rapidamente, então é importante acompanhar, de fato, informações verdadeiras, como o trabalho do ISA - Instituto Socioambiental, por exemplo, que acompanha os Yanomamis de perto e produz informações confiáveis", indica.
Por fim, Marília também reforça a necessidade de conhecer e respeitar a diversidade. "As pessoas sabem muito pouco sobre os povos indígenas. Os Yanomamis têm a maneira deles de viver na floresta e é um povo que entende que as pessoas e a natureza não são coisas separadas - daí o esforço em manter essa floresta viva, que é saudável para eles, mas também para quem está na cidade. O jeito que eles vivem é diferente do nosso, e é muito importante que essa diferença continue existindo para que a diversidade permaneça no mundo", finaliza.

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PIB:Roraima/Mata

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