Incêndios ameaçam aldeias e floresta no Parque Indígena do Xingu

Valor Econômico, Brasil, p. A2. - 13/09/2022
Incêndios ameaçam aldeias e floresta no Parque Indígena do Xingu
Extensão da linha de fogo pode ter chegado a 50 quilômetros

Daniela Chiaretti

13/09/2022

A fumaça dos incêndios atinge várias aldeias do Parque Indígena do Xingu, o mais famoso território indígena do Brasil. Criado em 1961 e idealizado pelos irmãos Villas Bôas, o PIX é uma ilha de 2,8 milhões de hectares de florestas rodeada por plantações de soja por todos os lados.

Na região do parque vivem 16 povos e cerca de 5,5 mil pessoas. Desde a primeira semana de julho o território está convivendo com focos de incêndio que podem estar fora de controle devido à seca e às altas temperaturas na região.

Nesta segunda-feira, 12, havia duas aldeias ameaçadas pela proximidade das chamas e várias comunidades amanheceram sob nuvens de fumaça. Dois helicópteros e mais de 300 homens do Ibama e brigadistas tentavam conter o fogo.

Em reunião segunda-feira, em Canarana, uma das cidades no entorno do Parque, lideranças indígenas manifestaram sua preocupação com a intensidade dos incêndios, o tempo muito seco e a falta de chuvas.

O encontro foi solicitado pelo cacique Afukaka Kuikuro e reuniu lideranças das etnias Kalapalo, Yawalapiti, Kamaiura, Kisedjê, Yudja e de várias associações.

O maior fogo está na região da Lagoa Tafununu, território de ocupação ancestral dos Kuikuro e onde ocorreu o kuarup do jornalista Washington Novaes, falecido em agosto de 2020 e homenageado pelos indígenas.

Kuarup é o ritual das comunidades indígenas do Alto Xingu, no Nordeste do Mato Grosso, que celebra a vida e se despede de mortos ilustres. O fogo é grande e faz a fumaça chegar bem longe.

"A floresta está queimando no Alto Xingu, na floresta dos Kuikuro e pode ir para as florestas dos Kalapalo e dos Matipu", diz Watatakalo Yawalapiti, coordenadora da Associação Terra Indígena do Xingu (Atix) - Mulheres. "Há muita gente tentando apagar, mas está muito perigoso."

Os indígenas manifestaram apoio ao Ibama para conter o fogo. "Tem duas aldeias onde o fogo pode chegar. Tem que tentar fazer de tudo para que o fogo desvie para outro lado", diz Watatakalo Yawalapiti. "Estamos torcendo para que chova".

A direção da Atix reconhece o esforço do Ibama de tentar controlar a situação, mas reivindica mais coordenação com as lideranças indígenas do TIX para decidir como e onde serão feitas as queimas preventivas em 2023.

O Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) é o ponto focal, dentro do Ibama, que procura prevenir os incêndios com campanhas educativas e estratégias. Uma delas, por exemplo, é a queima controlada da matéria orgânica seca que é combustível para os incêndios nos meses mais quentes.

Os pequenos aviões bimotores que sobrevoam a região e trazem normalmente médicos e suprimentos, não conseguem pousar nas aldeias com a falta de visibilidade provocada pela fumaça.

Um cálculo preliminar diz que há uma linha de 50 quilômetros de fogo cortando o Parque. Na segunda-feira passada havia nove regiões queimando no Território Indígena do Xingu - o TIX, como preferem chamar os indígenas. No domingo já eram 12.

"Agora é importante ajudar a apagar ou mitigar o fogo até as chuvas voltarem, em outubro", diz Biviany Rojas Garzón, coordenadora do Programa Xingu do Instituto Socioambiental. No meio desta tragédia está surgindo uma ideia para depois do fogo apagar.

"Pensamos em como recuperar as áreas queimadas. Uma ideia poderia ser, junto com os helicópteros do Ibama, jogar as sementes da muvuca nestas áreas", afirma Watatakalo Yawalapiti.

Muvuca é uma mistura de diferentes sementes nativas da Amazônia e do Cerrado, que são plantadas diretamente no solo. A técnica é usada pela Rede de Sementes do Xingu desde o começo da entidade, em 2007. As sementes são coletadas por indígenas, assentados rurais e quilombolas em um movimento que vem crescendo ao longo dos anos.

A técnica de restauro florestal por sementes foi utilizada na Mata Atlântica destruída pela poluição das indústrias de Cubatão nos anos 80.

A jornalista viajou ao TIX a convite do ISA e da Rede de Sementes do Xingu

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/09/13/incendios-ameacam-55-mil-pessoas-e-floresta-na-terra-indigena-do-xingu.ghtml
PIB:PIX

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