Indígenas isolados estão sob ataque

FSP, Opinião, p. A2. - 05/02/2022
Indígenas isolados estão sob ataque
A extinção desses povos significa um ataque contra a humanidade

Txai Suruí
Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia
4.fev.2022

Quebradas (galhos de árvores torcidos de forma que só os isolados fazem), pegadas e uma pessoa correu sem dar tempo para que o identificassem. É o relato dos jupaús, mais conhecidos como uru-eu-wau-waus, na semana passada, do que eles viveram enquanto andavam no mato durante a coleta de castanha. Relato dos que eles supõem ser os que eles chamam de "baixinhos".

O Brasil tem, segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio), 114 registros de povos vivendo em isolamento voluntário; desses, 28 estão confirmados e, em relação aos outros 86, estão sendo feitos levantamentos sobre as áreas que ocupam.

O estado de Rondônia possui oito povos nessa situação; destes, quatro estão na Terra Indígena Uru Eu Wau Wau. Por isso a preocupação dos jupaús, que constantemente vêm denunciando a situação do seu território, que vem sofrendo com invasões, desmatamento e queimadas por grileiros, que colocam em risco a vida dos indígenas, podendo contaminá-los com Covid e gripe.

Mas essa não é uma realidade apenas dos jupaús. A situação dos indígenas isolados se agrava ainda mais quando a Funai articula, através de um esquema criminoso com o senador bolsonarista Zequinha Marinho (PSC-PA), a abertura da Terra Indígena Ituna-Itatá, que teve sua portaria de restrição renovada por apenas seis meses, após pressão e decisão da Justiça Federal do Pará. Essas portarias garantem a sobrevivência dos povos isolados até a conclusão dos processos de reconhecimento e demarcação das áreas.

Outras terras, como a Piripkura e a Jacareúba/Katawixi, aguardam desde dezembro a renovação da portaria. Enquanto isso, a vida desses indígenas corre risco.

De volta a Rondônia, a Terra Indígena Massaco, onde vivem indígenas isolados, está sob imensa pressão e desmatamento, segundo dados do Boletim Anual do Sistema de Alerta de Desmatamento em Terras Indígenas com Registro de Povos Isolados (Sirad), desenvolvido pelo Instituto Socioambiental (ISA), que demonstrou um aumento no desmatamento de 263% em relação a 2020.

Para escancarar ainda mais o extermínio próximo que ameaça esses povos, a Funai há cinco meses vem ignorando o pedido de proteção dos povos isolados do Mamoriá Grande, recém-localizados nas proximidades do rio Purus, fato confirmado pela própria Frente de Proteção Etnoambiental Madeira Purus do órgão.

O Brasil, que antes era referência na política de respeito à autodeterminação dos povos, hoje pratica uma política antiambientalista e anti-indigenista e coloca esses povos à beira do genocídio.

A extinção desses povos significa um ataque contra a humanidade. Não podemos permitir que isso aconteça.

FSP, 05/02/2022, Opinião, p. A2.

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/02/indigenas-isolados-estao-sob-ataque.shtml
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