Funai denuncia que madeira apreendida na Terra Indígena Pirititi é alvo de furto, em Roraima

Amazônia real http://amazoniareal.com.br/ - 05/06/2018
Manaus (AM) - O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) ainda estuda o destino que dará às 7.387 toras (o equivalente a 15.663 metros cúbicos) da madeira extraída ilegalmente da Terra Indígena Pirititi, no sul de Roraima, e apreendidas pelo órgão ambiental há 37 dias. Enquanto isso, a Frente de Proteção Etnoambiental dos Waimiri-Atroari da Fundação Nacional do Índio (Funai), denunciou que as toras de madeira estão sendo alvo de furtos à Polícia Federal. Um inquérito foi aberto para investigar o caso.

A agência Amazônia Real recebeu fotografias produzidas no dia 26 de maio passado pelos servidores da Funai. As imagens mostram parte da madeira apreendida no pátio improvisado, sobre uma clareira aberta dentro da Terra Indígena Pirititi, região do município de Rorainópolis (a 290 quilômetros de Boa Vista). No chão de terra batida há marcas de caminhões, que puxam as toras para fora de um ramal Arara, segundo diz os servidores da Funai. "Nós estamos percebendo uma movimentação grande de caminhões no ramal, entrando e saindo levando madeira", diz um servidor, que não quis se identificar por medida de proteção.

Por meio da assessoria de imprensa, o Ibama em Brasília disse que não recebeu denúncias sobre o furto da madeira na terra dos Pirititi ou mesmo identificou que o crime possa estar ocorrendo. Já a Polícia Federal diz que prefere não se manifestar sobre uma investigação que ainda está em curso.

Sobre o destino da madeira apreendida no dia 30 de abril, o Ibama informou que estuda se fará um leilão judicial ou doação às instituições públicas e beneficentes.

À reportagem, o Ibama informou que identificou os responsáveis pela extração ilegal de madeira na terra dos índios isolados Pirititi, mas não vai divulgar os nomes. O inquérito aberto pela Polícia Federal, à pedido do Ministério Público Federal em Roraima, teve o sigilo decretado no dia 9 de maio. Em outro inquérito, o MPF investiga se a exploração ilegal de madeira causou algum impacto sobre os índios que vivem na região.

Foi a maior apreensão de madeira ilegal já feita em Roraima. Segundo o Ibama, as 7.387 toras seriam transportados pelo Porto Chibatão, em Manaus, para outros estados do país ou mesmo para o exterior. As toras são de grandes árvores de espécies como maçaranduba, cupiúba, angelim-ferro e angelim-pedra.

Em janeiro, a Operação Arquimedes, que reuniu Ibama, Receita Federal e Polícia Federal, descobriu 444 contêineres no porto Chibatão carregados com madeira ilegal. As investigações estão em andamento.

Após a apreensão em Manaus, o Ibama reforçou a fiscalização em Roraima, origem de parte do produto encontrado nos contêineres. Após encontrar indícios de retirada ilegal de madeira no sul do estado de Roraima, imagens de satélite indicaram a localização dos possíveis focos de desmatamento, que foram confirmados em sobrevoos de helicóptero a TI Pirititi.

A operação contou com apoio de equipes de Brasília. De acordo com o Ibama, as vias de acesso ao local do extração ilegal de madeira estavam bloqueadas, o que levou os fiscais a caminharem até 18 quilômetros na selva para chegar aos pontos onde as toras estavam estocadas.

A apreensão do Ibama no sul de Roraima tem sido questionada pelos madeireiros e políticos do estado. Em uma declaração divulgada por redes sociais, o senador Romero Jucá (MDB) afirma que vai dar apoio aos madeireiros em possíveis processos judiciais e mobilização no Ibama em Brasília, para questionar a fiscalização do instituto no estado.

No áudio, o senador Jucá diz que os madeireiros "sofrem perseguição política" da Fundação Estadual de Meio Ambiental e Recursos Hídricos (Fenarh), o órgão ambiental estadual, e acusa o Ibama de abusos.

"Eu me reuni há alguns dias com o madeireiros e pedi a eles que identificasse, colocassem informações, laudos, multas, enfim todas as questões que estão sendo... do abuso do Ibama, para que nós tenhamos as condições de concretamente, junto com um grupo de madeireiros, vir ao Ibama nacional e colocar claramente a situação", afirma o senador.

Jucá afirma ainda que está ao lado dos madeireiros, mas ressalta que eles têm direito a trabalhar dentro das normas vigentes. Na sequência, reafirma que vai apoiar os madeireiros em dois caminhos, no Ibama em Brasília, desde que tenha comprovação de abusos, e a via judicial.

Procurado pela reportagem, o Ibama disse que não vai responder às declarações do senador Romero Jucá.

A Fundação Estadual de Meio Ambiental e Recursos Hídricos (Femarh) divulgou uma nota de repúdio contra as declarações do senador Jucá.

"Femarh considera que a atitude do Senador Romero Jucá, além de irresponsável, visa apenas transferir para o Governo do Estado sua falta de competência e vontade política em resolver os assuntos de interesse do setor madeireiro junto aos órgãos federais", diz a nota.

Índios isolados

A Terra Indígena Pirititi abriga índios isolados, identificados pela Fundação Nacional do Índio (Funai) durante um sobrevoo, em 2011. Antes, acreditava-se que eles viviam dentro dos limites do território dos Waimiri-Atroari, de quem são próximos. Conforme o decreto de restrição da área, ela tem 43.404 hectares, no sul do estado de Roraima, divisa com o Amazonas. O território está com acesso interditado, ou seja, é proibida a entrada de qualquer pessoa e sua exploração econômica.

De acordo com o Ibama, a derrubada de árvores degradou um total de 1.372 hectares de floresta dentro da Terra Indígena Pirititi, o equivalente a mais de 1.300 campos de futebol. Além do corte seletivo da madeira, foram abertos ramais e estradas para retirada das toras da floresta.

Em nota, o chefe da Divisão Técnico-Ambiental do Ibama em Roraima, Diego Bueno, disse que a área indígena desmatada é de extrema sensibilidade ecológica e abriga espécies de fauna e flora ainda desconhecidas.





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