Enquanto as velhas falácias de que os povos indígenas da Raposa Serra do Sol, de Roraima, passam fome, que não produzem nada, ou que estão no lixão de Boa Vista, a realidade nas regiões é outra. Ao contrário disso, vivem em uma realidade de trabalho coletivo, sustentável, geração de renda e de fortalecimento da luta pelo viver das comunidades e povos indígenas, após reocupação dos seus territórios, historicamente, invadidos.
Um exemplo desse trabalho coletivo trata-se da Assembleia regional de aprovação do projeto de gado da região das Serras, realizada nos dias 11, 12 e 13 no Centro Campo Formoso, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Campo Formoso é uma das comunidades indígenas da região das Serras mais distantes, onde o acesso é aéreo, ou terrestre pela fronteira da Venezuela e outras comunidades indígenas da região.
Conforme contou o Tuxaua geral da região, Zedoeli Alexandre foi uma Assembleia bastante produtiva, com a participação de 150 lideranças indígenas, Tuxauas, coordenadores de centros, de projeto de gado, vaqueiros, mulheres, jovens e outras lideranças que não mediram esforços para chegar até o local e participar do momento de discussão, decisão e deliberação coletiva sobre o projeto de gado, prática cultural, que já existe há mais de 40 anos de luta e resistência dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol.
Um dos principais objetivos da Assembleia foi o repasse do projeto de gado às comunidades indígenas que, a partir da decisão coletiva, assumiram o compromisso de permanecer com o projeto por cinco anos. As comunidades atendidas pelo projeto são: Urucá, Pedra Preta, Maturuca, Prototo, Lage, Makukem, Santa Liberdade, Sol Nascente, São Gabriel, Manaparu, Salvador e Pedra Branca.
Inicialmente, segundo a ata da Assembleia, foi apresentando o levantamento do projeto de gado na região das Serras, dividido entre o projeto M* com um total de 3.839, projeto comunitário 4.371, familiar 6.366 e da Funai, 23 reses, um total de 18 mil reses somente na região das Serras, contando com as comunidades indígenas que não estiveram no local e não apresentaram o seu quantitativo.
Durante a Assembleia, as lideranças também apresentaram suas preocupações quanto alguns projetos de gado que estão entrando nas comunidades indígenas sem uma ampla discussão. Por exemplo, o projeto oriundo de emenda parlamentar do deputado Federal Édio Lopes que, segundo as lideranças indígenas, não houve consulta e nenhum esclarecimento prévio sobre as origens do projeto, muito menos a sua condição de manejo.
Como resultado da Assembleia, foram repassados 12 lotes do projeto de gado, correspondendo uma quantidade de 624 reses e um total de R$624 mil, segundo a contabilidade das lideranças indígenas.
Outra deliberação importante da Assembleia foi o repasse de gado ao povo indígena Wai Wai em 2019, conforme reivindicado pelas lideranças Wai Wai e firmado na segunda reunião Ampliada do CIR, realizada no mês de dezembro, na comunidade indígena Anauá, Terra Indígena Wai-Wai. Ainda este ano, as lideranças indígenas da região das Serras devem ir à terra indígena Wai Wai para verificar as condições de estrutura.
O Tuxaua Zedoeli avaliou que desde a década de 80 quando o projeto chegou à região houve avanço e hoje possuem 57 projetos distribuídos em várias comunidades indígenas, totalizando 18 mil reses. Além disso, cada vez mais as comunidades indígenas se fortalecem, melhorando as condições de vida e gerando renda para a própria região.
Quanto à geração de renda, o Tuxaua avaliou que corresponde a uma alternativa alta para a região e isso responde, claramente, as mentiras propagadas na mídia de que Raposa Serra do Sol não é alternativa de renda para o Estado, segundo o Tuxaua. "Também foi feito uma avaliação da geração de renda na região e concluímos que trouxe muitos benefícios às famílias, e isso corresponde uma alternativa muito alta para a região, onde é consumido não somente a carne, mas banana, farinha, arroz e outros produtos, porém, a carne é potencial da nossa região", avaliou Zedoeli.
"Dizer também do que se fala na mídia, que Raposa Serra do Sol não corresponde a uma alternativa para o Estado, isso não é verdade. A Raposa Serra do Sol tem uma autonomia própria, as comunidades indígenas criam outros animais, e a gente trabalha no coletivo. Então, o que se fala na mídia é mentira" afirmou o Tuxaua geral, que veio a sede do CIR nesta semana para divulgar a realização da Assembleia regional.
http://www.cir.org.br/site/?p=592
PIB:Roraima/Lavrado
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