Pela primeira vez, concurso para professor da rede estadual prioriza indígenas para as escolas de aldeias

Diário Catarinense dc.clicrbs.com.br - 23/08/2017
Enfim os indígenas de Santa Catarina comemoram uma boa notícia. Dentro de cerca de 40 dias vai ser realizado concurso público específico para professores das aldeias. São 39 vagas à disposição. Trata-se de uma antiga reivindicação, já que até agora os profissionais eram admitidos em caráter temporário (ACTs) e o último concurso para contratação de efetivos ocorreu em 2003. Os candidatos deverão comprovar serem indígenas e precisam ter a anuência dos caciques para lecionar nas aldeias.

A prova objetiva tem data marcada, 8 de outubro. As vagas específicas estão incluídas no concurso 2272/2017 para o magistério público estadual, que está aberto, com um total de 1 mil vagas. O valor da inscrição é de R$ 100. Em Santa Catarina existem cerca de 10 mil Kaingang, Xokleng e Guarani. Para os indígenas, foram estabelecidas condições para inscrições e provas referentes a cada grupo.

É necessário ser indígena da etnia específica para concorrer à respectiva vaga, já que parte da prova será composta de perguntas na língua materna, e ter o curso de Licenciatura Indígena oferecido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Para os Povos Guarani e Xokleng/Laklãnõ estão abertas vagas para professor de 1o ao 5o ano e para professores atuarem nas disciplinas de: Ciências Humanas e Sociais aplicadas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia), Ciências da Natureza e suas tecnologias (Ciências, Biologia, Química e Física). Linguagens e suas tecnologias (Artes, Arte Indígena, Língua Portuguesa, Língua Materna, Educação Física, Língua Portuguesa/Literatura) e Matemática e suas tecnologias (Matemática).

Para o Povo Kaingang para professor de 1o ao 5o ano e para professores atuarem nas disciplinas de: Artes, Arte Kaingang, Biologia, Ciências, Cultura Indígena Educação Física, Filosofia, Física, Geografia, História, Língua Kaingang, Língua Portuguesa, Língua Portuguesa e Literatura, Matemática, Química e Sociologia. As Regionais que oferecem vagas para escolas indígenas são: Chapecó, Xanxerê, Ibirama, Brusque, Grande Florianópolis, Laguna, Joinville, Canoinhas e Seara.

A garantia do concurso foi obtida em abril, em Chapecó, durante o Seminário "Desafios da Educação Escolar Indígena" promovido pelo Ministério Público Federal e coordenado pelo procurador da República Carlos Humberto Prola Júnior. Na ocasião, o secretário de educação Eduardo Deschamps foi cobrado e se comprometeu em criar um grupo de trabalho e viabilizar o concurso.

A professora Maria Dorothea Post Darella, do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFSC, foi indicada para compor o GT. O edital do concurso foi publicado do Diário Oficial do Estado e a concepção teve a participação de integrantes de organizações governamentais e lideranças indígenas Guarani, Kaingang e Laklãnõ-Xokleng.

São 17 professores Guarani no Estado, mas nenhum diretor de escola

O Guarani Davi Timóteo Martins é da aldeia Morro da Palha, entre Biguaçu e Tijucas, que tem cerca de 216 hectares, 21 famílias e cerca de 70 moradores. Ele é professor, faz parte da Comissão Gurarani Nhemonguetá que reúne caciques do litoral de Santa Catarina e do Paraná e ajudou a elaborar o edital.

- Não estamos tirando a vaga de professor ACTs de ninguém, que por sinal são poucas. Mas o fato de manter o professor indígena dentro de uma escola que seja diferenciada e com currículo próprio são um ganho para as comunidades - diz.

Existem 17 professores Guarani no Estado com formação em Licenciatura Intercultural e Magistério Indígena, porém, nenhum como diretor de escola. Isso poderá ser corrigido com o concurso.

- Tanto a Secretaria de Educação como o MEC não dão conta da realidade do professor indígena na sala de aula. A Comissão Gurarani Nhemonguetá foi criada para sentar e discutir as questões que nos pertencem com autoridades, como calendário, alimentação, transporte, pagamentos.

Maior autonomia para elaborar calendário

O Kaingang João Batista Antunes dá aulas para turmas do ensino médio e fundamental na escola da Terra Indígena Toldo Chimbangue, em Chapecó. O colégio tem cerca de 150 alunos Kaingang e Guarani. Formado em Língua Portuguesa pela Unochapecó, o educador diz que a realidade hoje é outra se comparada com anos anteriores quando não havia índios graduados nas aldeias.

- Nós nos preparamos, frequentamos universidades, vivemos nas aldeias e entendemos as necessidades dos estudantes e iremos fortalecer nossas culturas - diz.

Além das garantias trabalhistas asseguradas aos educadores aprovados, observa, um dos avanços será a autonomia que a comunidade passa na gestão escolar.

- Hoje (terça-feira) amanheceu muito frio aqui no Oeste. Tivemos vários alunos ausentes, pois as casas ficam longe. Com uma gestão escolar autônoma, podemos elaborar um calendário que leve em conta as particularidades e não fique atrelado ao mesmo período das demais escolas da rede pública estadual que atende a outras características - observa o professor que dá aulas para classes do Fundamental e Médio.

Mais informações do concurso para o magistério público estadual no site www.acafe.org.br/concurso/magisterio.



http://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2017/08/pela-primeira-vez-concurso-para-professor-da-rede-estadual-prioriza-indigenas-para-as-escolas-de-aldeias-9877469.html
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