MPF/DF pede que entidades religiosas sejam proibidas de exibir documentário sobre comunidade indígena

Ministério Público Federal no Distrito Federal - MPF/DF - www.prdf.mpf.mp.br - 11/05/2015
O Ministério Público Federal (MPF) em Brasília pediu que a Justiça proíba a veiculação do documentário Hakani - A história de uma sobrevivente. Para o órgão, o vídeo produzido por duas organizações religiosas pode incitar o ódio, aumentar o preconceito contra comunidades indígenas, além de configurar um abuso à liberdade de expressão. Produzido a partir do drama de Hakani, uma criança da tribo Suruwahá que foi adotada por um casal de missionários, o documentário trata do tema infanticídio.

A afirmação dos pais adotivos - que são os coordenadores de uma das entidades - é que a menina foi salva pelo irmão depois de ter sido enterrada viva. Embora raro, o infanticídio ainda faz parte da cultura de algumas etnias, como a Suruwahá. Pela tradição, são enterradas crianças com deficiências ou com atrasos severos de desenvolvimento. Na ação civil pública, a procuradora da República Ana Carolina Alves Roman pediu que o material deixe de ser exibido, que as entidades sejam proibidas de expor imagens de crianças indígenas e, ainda, que sejam condenadas a pagar R$ 1 milhão de indenização por danos morais coletivos. Os responsáveis pelo vídeo são as entidades Jocum Brasil (Jovens com uma Missão) e Atini: Voz pela Vida.

No pedido a ser analisado pela Justiça Federal, a produção é classificada como "mais um elemento da campanha difamatória em face dos índios brasileiros, bem como uma justificativa para a atuação religiosa e missionária das organizações em aldeias indígenas". Entre as atividades desenvolvidas pelas duas organizações estão a evangelização e a formação de jovens missionários para atuarem junto aos povos indígenas, em especial na Amazônia, onde o objetivo era erradicar o infanticídio.

A procuradora lembra que, ao ser disponibilizado via internet - no Youtube com link direto do canal oficial da Jocum - , o documentário gerou na população um sentimento de revolta em relação aos povos indígenas. Comentários postados na internet e reproduzidos no documento enviada à Justiça usam expressões como "bichos do mato e barbárie" para se referir ao episódio. Outros sugerem que os líderes das aldeias é que deveriam ser enterrados. Ana Carolina Roman lembra ainda que, embora trate de uma simulação, a produção é capaz de confundir quem assiste ao vídeo. "O atores, todos indígenas, dão à produção um tom de verossimilhança capaz de confundir o telespectador, que acredita estar assistindo a um documentário e, portanto, pensa testemunhar um verdadeiro infanticídio", afirma em um dos trechos da ação.

O pedido do MPF faz ainda uma referência ao posicionamento da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) que já emitiu nota sobre o documentário. No texto, a entidade afirma que o filme é resultado da encenação de uma entidade fundamentalista norte-americana. "Não é uma campanha pró-vida, mas uma tentativa de criminalização das coletividades indígenas, colocando-as na condição permanente de réus", classificou a ABA. Diante dos danos causados pela exibição do documentário, o MPF solicitou a suspensão imediata da veiculação por meio de liminar.

Clique aqui para conferir a íntegra do pedido do MPF

http://www.prdf.mpf.mp.br/imprensa/11-05-2015-mpf-df-pede-que-entidades-religiosas-sejam-proibidas-de-exibir-documentario-sobre-comunidade-indigena
PIB:Juruá/Jutaí/Purus

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