Índios querem estudar para defender suas terras

Diário da Amazônia - http://diariodaamazonia.com.br - 17/10/2013
Vítimas de um dos maiores massacres registrados na trágica história da ocupação das terras indígenas brasileiras - o Massacre do Paralelo 11, que ficou mundialmente famoso na década de 1960 pela crueldade -, os cinta larga sofrem com as mesmas agruras de outros povos indígenas, mais os agravantes provocados pela desestruturação social trazida pela exploração de diamantes encontrados em suas terras e o preconceito impiedoso, que ficou maior a partir de 2004, quando 29 garimpeiros foram mortos na terra indígena. Para jovens e idosos, a educação é a saída da encruzilhada entre a tradição e o mundo dos colonizadores, para o qual estão sendo arrastados em um processo cada vez mais complexo e danoso. Iara Cinta Larga, 18 anos, casada há seis meses, é uma das primeiras alunas do curso de ensino médio recentemente implantado na aldeia. Ela pretende fazer o curso superior de Gestão Ambiental, "para ajudar o meu povo a cuidar da nossa terra".

De acordo com a professora Gilceane Sandra Rodrigues, a Seduc (Secretaria Estadual de Educação) planeja implantar cursos on line para os índios fazerem faculdade sem ter que sair de casa. Estudar fora é muito difícil. Eles não têm recursos financeiros e correm sérios riscos de agressões pelo simples fato de serem cinta larga. Além disso, nas cidades tendem a reduzir os vínculos com a cultura ancestral. A internet chegou recentemente em uma das aldeias da Reserva Roosevelt, mas os índios ainda não têm telefone. A comunicação com o mundo exterior é importante, porque eles vivem a cerca de três horas de viagem por uma estrada de chão batido até a cidade de Espigão do Oeste, e, com o passar do tempo, cada vez mais dependem do mundo dos não índios.


Saúde

Enfermeiro e responsável pelo posto de saúde da aldeia central na TI Roosevelt, Ronaldo Cinta Larga, 31 anos, informa que a população indígena sofre com problemas de saúde decorrentes da falta de uma alimentação adequada e saneamento básico. Eles mantém uma lavoura de subsistência, mas dependem da compra de produtos não índios para complementar o cardápio. Entre as doenças mais comuns estão a diarreia, pneumonia, malária e diabetes.

O atendimento médico é feito por equipes do Programa Saúde da Família, formadas por grupos de profissionais, incluindo médico e dentista, que periodicamente se deslocam até a aldeia para fazer os atendimentos. As equipes são formada por mais de cinco pessoas e o posto de saúde é acanhado para abrigar a todos. Também faltam medicamentos para eventualidades. Quando há uma emergência, o socorro é solicitado por rádio. Os doentes são levados para as cidades próximas quando precisam de um atendimento mais complexo.


Levantamento Etnoambiental

Os cinta larga participam atualmente de um levantamento etnoambiental das terras que herdaram dos ancestrais. O trabalho tem por objetivo mapear e levantar as condições ambientais do território e inclui um estudo sobre a cultura e as tradições da etnia. Estes levantamentos deverão basear um plano de desenvolvimento sustentável para os indígenas. O trabalho é feito por um grupo técnico juntamente com a comunidade, reunindo, portanto, ciência e conhecimentos tradicionais no registro e análise dos vários aspectos sociais e geográficos dos território. "Pode-se dizer que estamos fazendo o zoneamento do território indígena, com o levantamento da flora, fauna, rios, acidentes geográficos e aspectos relacionados à cultura do povo", explica Neide Bandeira, da Associação de Desenvolvimento Etnoambiental Kanindé, entidade responsável pelo loteamento, que já foi feito na Terra Indígena Suruí, em Rondônia.


Língua mãe

Na escola da aldeia, o material didático é bilingue. A língua mãe, que predomina nas conversas, é ensinada por indígenas formados pelo Projeto Açaí, desenvolvido pelo Governo do Estado em parceria com a Universidade Federal de Rondônia. No local, estudam 65 alunos do ensino fundamental e 10 do ensino médio. Ao todo, 10 professores lecionam na aldeia, formados em Letras, Matemática e Pedagogia. Segundo Gilceane, os alunos são espertos e aprendem com facilidade, mas a incidência de faltas preocupa.

Entre os índios mais antigos da aldeia, Capitão Barroco também aposta no conhecimento para mudar o destino dos cinta larga. "Precisamos entender o mundo dos brancos, para poder defender as nossas terras", afirma. Ele conta que ganhou este nome de um visitante, que era tenente. O apelido pegou e o nome indígena, que tinha o significado de "uma pessoa sempre alegre", foi esquecido.

Na escola da aldeia, o material didático é bilingue. A língua mãe, que predomina nas conversas, é ensinada por indígenas formados pelo Projeto Açaí, desenvolvido pelo Governo do Estado em parceria com a Universidade Federal de Rondônia. No local, estudam 65 alunos do ensino fundamental e 10 do ensino médio. Ao todo, 10 professores lecionam na aldeia, formados em Letras, Matemática e Pedagogia. Segundo Gilceane, os alunos são espertos e aprendem com facilidade, mas a incidência de faltas preocupa.

Entre os índios mais antigos da aldeia, Capitão Barroco também aposta no conhecimento para mudar o destino dos cinta larga."Precisamos entender o mundo dos brancos, para poder defender as nossas terras", afirma. Ele conta que ganhou este nome de um visitante, que era tenente. O apelido pegou e o nome indígena, que tinha o significado de "uma pessoa sempre alegre", foi esquecido.


Artesanato

Muitas tradições da cultura cinta larga estão desaparecendo. A tecelagem de algodão é um exemplo. Os fios utilizados na confecção de cocares, brincos, cintos e outros adereços são comprados prontos no comércio das cidades vizinhas. Capitão Barroco explica que os índios já não têm o algodão, que antes encontravam na mata, e falta semente para cultivar novas árvores perto da aldeia. As cintas confeccionadas com uma faixa da entrecasca de tauari, que originaram o nome do povo, pouco se vê na aldeia. As mulheres fazem colares e outros adereços com sementes e penas de pássaros, com destaque para os cordões feitos com caroços de tucumãs. Os homens produzem as longas flechas utilizadas para a caça e para a guerra.


Localização

O povo indígena Cinta Larga, da família linguístia Mondé, habita as Terras Indígenas (TIs) Roosevelt, Serra Morena, Parque Aripuanã e Aripuanã, localizadas de forma contígua dentro do território habitado pelos cinta larga. As quatro TIs são homologadas e somam ao todo 2 milhões e 700 mil hectares. Parte delas está localizado no estado de Rondônia e parte no Mato Grosso.


Religião

As crenças tradicionais do povo cinta larga foram substituídas pela igreja cristã. Em suas conversas, os índios constantemente clamam pelo "Deus" levado para as aldeias por pastores evangélicos.



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PIB:Rondônia

Related Protected Areas:

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  • TI Aripuanã
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